Sem sangue, sem mortes e sem violência, chega ao fim a saga The Pacific, que em 10 episódios muito bem produzidos contou o outro lado da 2ª Guerra Mundial.

Verdade seja dita, com o maior orçamento já feito para uma série de Tv, a qualidade de The Pacific não poderia ser em menor escala. Detalhes históricos bem construídos, bons atores, edição primorosa e trilha sonora emocionante. Elementos fundamentais para qualquer série ou filme que decida ter uma guerra como tema e que não foram esquecidos por Tom Hanks e Steven Spielberg.

Nesse momento, é impossível deixar de lado a comparação com Band Of Brothers, outra produção da dupla que fez sucesso na TV, contando a história da mesma guerra, a partir do Dia D, com a invasão da Normandia, até a vitória sobre os nazistas. Do ponto de vista emocional, acredito que Band Of Brothers se saiu melhor. Não que os fuzileiros de The Pacific sejam menos carismáticos, mas em alguns momentos senti o peso das longas sequências de tiroteios, isso sem falar na falta de conexão entre o trio principal, formado por Basilone, Sledge e Leckie.

Mesmo assim, o resultado final é uma trama épica e que tem bastante foco nos problemas pessoais dos personagens.

Em ‘Home’, o foco está na adaptação dos fuzileiros após o retorno para a vida normal. Romances, trabalho e traumas fecham a história e se completam com a revelação dos destinos desses personagens da vida real e da revelação de quem é quem, na parte dos tradicionais depoimentos.

É sempre interessante conhecer quem são os homens que realmente estiveram lá e podem contar, como ninguém, a verdadeira face da guerra. Aliás, é justamente aí que moram os méritos do projeto encabeçado por Hanks e Spielberg. Histórias de guerra são sempre mais tocantes quando aconteceram de verdade e quem é fã do gênero não pode deixar de conferir The Pacific e Band Of Brothers.

Okinawa traz mais sangue, mais mortes, mais horror e mais guerra para The Pacific e isso não é novidade. A grande mudança na história está na experiência dos fuzileiros e no envolvimento dos civis que simplesmente não tinham para onde fugir.

Há alguns anos, eu ainda estava na faculdade de jornalismo e sempre interessada na 2ª Guerra Mundial, acabei conseguindo duas entrevistas que, na época, foram publicadas nos jornais experimentais produzidos no curso. Uma delas foi com um soldado nazista. A outra, com um dos civis sobreviventes da guerra em Okinawa. Na época, ele era criança e, embora eu não possa lembrar o nome, certos relatos de horror eu provavelmente jamais esquecerei.

Ao ver esse episódio de The Pacific eu já sabia, em termos, o que iria encontrar. Para ser sincera, é muito difícil comentar cada episódio, porque eles têm produção impecável e não há razão para destrinchar um roteiro cheio de tiros e corpos inertes. O que fica, sempre, é o lado mais humano e é justamente aí que está o mérito em séries e filmes que tratam do assunto. Quem assiste não está interessado apenas na destruição e na reconstrução do período, são as pessoas e as histórias em que elas estiveram envolvidas que contam.

Ver Sledge completamente mudado, endurecido, anestesiado é o mais importante. O desespero e as reações, o medo de morrer, a tentativa de resgatar, dentro de si mesmo, um pouco de normalidade.

Esse episódio mostra que a guerra causa danos mais profundos na alma do que no corpo. Essas cicatrizes invisíveis podem doer mais do que feridas abertas.

Mais do que falar de uma das batalhas mais sangrentas e mortais da 2ª Guerra Mundial, ‘Iwo Jima’ foge da fórmula. Não são apenas corpos mutilados, tiros e horror. O drama pessoal de John Basilone toma conta e faz a diferença.

Tiros, bombas e explosões, por si só, não fazem uma história de guerra interessante. As pessoas, as vidas envolvidas e as consequências de se fazer certas escolhas é que tornam tudo familiar, próximo, real.

Por isso mesmo, devo dizer, gostei muito mais desse episódio. Tivemos o sangue, mas é a tensão que o antecede que realmente importa. O foco total em Basilone trouxe o espírito do patriotismo que, nessas situações, me soa como completa imbecilidade.

Perto de ser dispensado, envolto em glória e recém-casado, Basilone escolhe voltar para a ativa e acaba morto, simplesmente, como mais um soldado. Bravura, coragem ou seja lá qual for o sentimento, não valem a pena numa hora dessas e lembra aquela máxima: É melhor morrer herói ou viver como covarde?

Continuando a saga Peleliu, mais sangue corre pelas colinas da Ilha. Numa estratégia inesperada e brilhante, os japoneses criam um sofisticado sistema de cavernas e quartéis generais subterrâneos, que lhes davam o privilégio de ataques surpresas e infinitas vantagens sobre os americanos.

A missão ainda é explorar a ilha, tomá-la dos japoneses e conquistar mais uma base no Pacífico. O problema é que a Inteligência americana não contava com a sagacidade dos inimigos que os massacram mais e mais a cada dia.

Poucos homens sobrevivem a mais um dia em Peleliu e os que restam precisam aprender a lidar com os traumas deixados pela guerra. Desespero, medo e depressão são apenas a ponta do iceberg.

Sledge é um deles. O rapaz do Alabama que não parecia capaz de suportar um dia no campo de batalha, ainda resiste, embora tenha mudado muito desde seu primeiro dia ali.

Depois de centenas de mortes, os americanos fazem a retirada dos fuzileiros. O destino são as ilhas de Pavuvu e Banika, onde tem um breve descanso até que seja necessário voltar para o fogo cruzado.

Mais uma vez, The Pacific traz um episódio que mostra que além dos japoneses, havia mais inimigos poderosos, contra os quais na maioria das vezes era impossível lutar. Depois da chuva e da umidade, as intempéries mudam. Calor extremo, clima seco e a sede implacável são mais elementos perigosos dentro do território hostil.

Ainda em Peleliu, os americanos enfrentam mais condições climáticas extremas e o grande foco é o momento em que os fuzileiros foram obrigados a fazer uma arriscada travessia, em campo aberto, virando alvo fácil para os atiradores japoneses.

Nem é preciso dizer que foram dizimados e foi por um milagre que alguns sobreviveram para contar a história. Numa hora como essas, chega a ser sorte sair ferido e ser levado pra um dos navios médicos, que fazem a viagem de volta para casa. Leckie, que atravessou o campo duas vezes em busca de ajuda médica para um dos amigos, acaba num desses barcos.

Sledge, que começa a compreender a realidade em que se encontra, sobrevive sem ferimentos e curiosamente, sente sua confiança aumentar, assim como a aceitação dos colegas fuzileiros.

Na campana, antes de mais um avanço na ilha, uma cena cruel e ao mesmo tempo interessante. O fuzileiro que grita no meio da noite, envolto em pesadelos, é morto pelos próprios companheiros, para evitar que seu esconderijo fosse descoberto. “Antes ele do que todos nós”.

Para Eugene Sledge, lutar na 2ª Guerra Mundial era uma espécie de sonho. Com problemas cardíacos e impedido pela família, ele não descansa até se alistar e embarcar para o Pacífico, onde descobre que o sonho que sempre teve, é um pesadelo muito real.

É estranho pensar no que motiva alguém a realmente querer ir para a guerra. Parece um desejo bizarro e doentio. Ainda assim, uma após a outra, vemos homens prontos para pegar em armas e massacrar os inimigos de seu país.

Sledge viu o amigo de infância, Sidney, entrar para os fuzileiros, tendo de esperar um longo tempo para fazer o mesmo. Depois do treinamento, ele vai para Pavuvu,onde não encontra nada do que esperava. Ou quase nada. Ele e Sidney têm um breve encontro, que só dura até o amigo ser mandado para casa.

Para Sledge a guerra no pacífico está apenas começando e a chegada em Peleliu, em meio a um intenso bombardeio, dá a ideia do que ele está para enfrentar. Diante do massacre dos americanos, ele congela. Não sabe como agir, sequer consegue se mexer. A violência extrema vence, assim como o medo, numa batalha que duraria mais de 2 meses.

Leckie e Sledge estão próximos no combate, embora as impressões do veterano sobre Deus os afaste, ideologicamente. Calejado desde Guadalcanal, Leckie tem novas perspectivas sobre a vida.

Quem conhece outro lado da guerra é John Basilone, famoso e aclamado onde quer que vá. A vida fora do campo de batalha é confortável, mas o medo não o abandona, especialmente agora, que seu irmão está a caminho do Pacífico.

Quando seu maior inimigo não é de carne e osso, como vencê-lo? Quando o tempo e as adversidades naturais representam seus piores temores, a guerra se transfere de fora, para dentro e a maior batalha, como pudemos ver em mais um episódio fantástico de The Pacific, um pouco a mais de autocontrole, pode fazer toda a diferença.

Sei que é chato sempre ler elogios. Pode até parecer que sou crítica o suficiente. Mas diante da emoção que cada cena da minissérie da HBO consegue passar, fica impossível não transferir o contentamento para cá.

Depois de Guadalcanal e do período de descanso na Austrália, tudo piora. Para Leckie, em especial, tendo de trabalhar no setor de inteligência e deixando a batalha propriamente dita. O cansaço físico e a estafa mental começam a se unir e, assim, são os piores inimigos dos fuzileiros. A chuva sem trégua, montanha de lama e a tensão de novos ataques piora tudo. O pesadelo maior é em Gloucester, onde a situação toma rumos críticos. Leckie, sempre tão centrado, desafia autoridades, desafia a morte, quando se deixa ficar sozinho no meio da selva só para sentir a glória de eliminar alguns japoneses. As cartas para Vera são amarguradas, ele se prende a troféus de guerra, vê outros homens, fortes como ele, se renderem ao desespero e ao suicídio.

Quando os japoneses somem por muito tempo, os problemas começam. Como uma criança medrosa, Leckie não é mais capaz de controlar a própria bexiga durante a noite, o que o deixa cada vez mais humilhado e deprimido. Tanto que, pouco depois de chegar às ilhas de Pavuvu e Banika, é enviado a um hospital militar psiquiátrico, onde pode constatar que ele não é o único a sentir os efeitos da guerra, como também, que existem casos absolutamente piores. É aí que ele começa a recuperar a confiança em si mesmo e se obriga a sair dessa zona de conforto. Pode parecer piada, mas no meio de tantos perigos de morte, um hospital como esses pode ser um alento e muitos soldados sabem disso. Diferente deles, Leckie decide voltar e continuar a luta ao lado de seus companheiros. Enquanto isso, Basilone é tratado como herói absoluto nos Estados Unidos e Eugene Sledge treina, já como fuzileiro, para enfrentar um terror que ele jamais imaginou existir.

Depois do inferno em Guadalcanal, o nome do paraíso é Melbourne. Num episódio que fala sobre o período de recuperação das tropas, com a preparação física e psicológica para a próxima ofensiva sobre o Japão, The Pacific deixa de lado a violência dos campos de batalha e se aprofunda mais no drama dos personagens.

Enquanto a hora de novas batalhas não chega, os fuzileiros americanos têm um período de descanso em Melbourne, na Austrália. O país, também envolvido na guerra, estava praticamente deserto de homens que, em sua maioria, lutavam na África. É nesse cenário amistoso, caseiro e cheio de mulheres disponíveis que os fuzileiros desembarcam, não sem gerar alguma confusão com os poucos soldados restantes, que protegiam a ordem pública no país.

Para John Basilone, porém, é tempo de luto. Com a morte do amigo Manny Rodriguez, ficou impossível para o sargento não se deixar levar pela depressão. Entre bebedeiras e imprudências, ele recebe a medalha de honra ao mérito e é tirado das tropas para ser o novo rosto dos fuzileiros, negociando armamentos e equipamentos para uso militar.

Mas, se a maioria dos homens está atrás de bebidas e diversão, outros parecem ter encontrado o amor e uma esperança de felicidade.

Um deles é Sydney, que conhece uma garota muito bem cuidada pela família e precisa conviver com dezenas de regras impostas pelo avô da moça.

Para Leckie, Stella é um alento. Especialmente porque, além de tudo, ele é muito bem recebido pelos pais dela, que o acolhe e trata como filho, com um carinho que ele jamais conheceu na própria família. É justamente isso que faz com que Stella o afaste. O medo de perdê-lo e de manter viva a esperança de que ele retorne à Austrália são decisivos para o final do relacionamento. Quando a mágoa toma conta de Leckie, ele desacata superiores e acaba designado para longe dos fuzileiros navais, sendo obrigado a aceitar um cargo de Inteligência que ele simplesmente não quer.

Como não poderia deixar de ser, o segundo episódio de The Pacific continua eletrizante e fenomenal. Depois de uma breve apresentação dos personagens, que foi o mote do que vimos anteriormente, os cenários ganham as cores da guerra que, como se sabe, não são nada bonitas.

Ainda em Guadalcanal, os fuzileiros enfrentam adversidades. Com o oceano dominado pelos japoneses, não há novas tropas chegando, armamentos ou comida. Literalmente morrendo de fome e economizando munições, é preciso confrontar outro inimigo: a selva tropical, densa, úmida e impenetrável.

Logo chega a ajuda do exército e com ela, a oportunidade de roubar alimentos, cigarros, roupas e munição, mostrando um pouco da rivalidade saudável entre os dois grupos. Leckie, suas cartas e poemas continuam em evidência, assim como as tentativas de Eugene Sledge em se alistar, resolvendo enfrentar o pai e ir para o combate.

No entanto, como o próprio nome do episódio diz, John Basilone é o grande destaque, por sua atuação no campo de batalha. Em minoria óbvia, os americanos contam com a sorte e a habilidade dos soldados e fuzileiros para vencer o grande número de japoneses. Os ataques, sempre durante a noite, dizimam os combatentes dentro das trincheiras. Quando os japoneses conseguem invadir o perímetro, a luta corpo a corpo toma conta e é a frieza de Basilone que salva dezenas de homens, com tiros certeiros e uma boa dose de loucura.

Invadir o fogo cruzado só para limpar a linha de tiros e fazer viagens de ida e volta com munição demonstram coragem e visão estratégica. Porém, por trás do homem que age nos momentos em que é preciso, está o amigo de Manny Rodriguez, morto no meio da selva. O sentimento de perda toma conta, mas é preciso conviver com isso e encarar que o que tiver de ser, será.

Depois da vitória surpreendente em Guadalcanal, é hora de reunir as tropas que restaram e partir para o próximo alvo. Para os fuzileiros, a maior surpresa, no entanto, é saber que, em casa, já são reconhecidos como verdadeiros heróis.

Depois de ver a primeira parte, que retrata os acontecimentos logo após o ataque a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, muitos adjetivos pululam na mente para descrevê-lo, mas direi apenas que a produção é fenomenal, deixando qualquer outra opinião por parte de vocês.

Assim sendo, as expectativas e a espera pela chamada “continuação” de Band Of Brothers valeu totalmente a pena. Chega a ser um imenso clichê, mas é preciso elogiar roteiro, fotografia, produção e pesquisa. Sem falar na qualidade do elenco escolhido para viver os dramas e dificuldades dos soldados que lutaram no Pacífico.

Band Of Brothers (que antes de The Pacific levava o título de série mais cara já produzida), conta a história da Easy Company, Regimento de Infantaria Paraquedista do Exército Americano que participou da invasão na Normandia, no dia 6 de Junho de 1944, o famoso Dia D, além da famosa Operação Market Garden e da Batalha de Bulge.

Nessa nova produção, a história geral será focada em 3 fuzileiros navais: John Basilone (Jon Seda), Robert Leckie (James Badge Dale) e Eugene Sledge (Joseph Mazzello). Esses dois últimos, aliás, são autores de livros utilizados para a roteirização, que levam os títulos de ‘Helmet For my Pillow’ e With the Old Breed: At Peleliu and Okinawa, respectivamente.

De início, temos o foco mais voltado para a visão de Leckie, em sua chegada em Guadalcanal. Como sempre, existe um clima que mistura expectativa, excitação e terror entre os soldados e oficiais, que ainda não imaginam o que vão enfrentar. O desembarque na praia é tranqüilo e , não fosse pelos navios e aviões em constante movimentação e ataque, nem pareceria um cenário de guerra, mas sim, uma praia tropical tranqüila, como outra qualquer. Mas logo os ataques começam, as primeiras baixas e a visão de Leckie sobre a guerra e sobre si mesmo, começa a mudar. A cena em que ele mata o soldado japonês em desespero é exemplo desse aprendizado. Enquanto os colegas querem ‘brincar’ com a vítima fácil, seu tiro certeiro não é crueldade, é compaixão. A ideia de que do outro lado há homens normais, com famílias e lembranças é muito forte.

Nesse primeiro episódio, John Basilone aparece rapidamente, num curto destaque para sua partida e o clima de despedida e esperança entre seus familiares. Já Eugene Sledge, que é mesmo o destaque principal da série, é mostrado como um rapaz doente, impedido de ir à guerra pelo pai. Com um sopro no coração, Sledge vê os amigos partirem para a batalha e se sente covarde, incapaz. Sua vontade de fazer parte dessa luta é o que vai levá-lo, em breve, para a Divisão da Marinha e para o meio do inferno que foi a guerra entre os Estados Unidos e o Japão.