Mad Men 7x10/11: The Forecast/Time & Life

5.5.15



7x10: The Forecast

“O que você conseguiu foi alcançado por mérito ou sorte?”. Através de questionamentos sobre futuro, passado e desejos, The Forecast se concentra em analisar as origens de vários personagens e o que eles esperam vir a seguir nas suas vidas. Ainda que a motivação das dúvidas existenciais abordadas no episódio soe um pouco artificial – a necessidade de escrever um discurso sobre o futuro surge e dai para frente todas as tramas seguem o mesmo tema –, os pensamentos que ela provoca são interessantes o suficiente para justificar a sua utilização.

O apartamento vazio de Don é a representação visual óbvia de como ele se sente. Ao precisar escrever sobre o futuro, ele é incapaz de pensar em algo sozinho ao mesmo tempo que não vê nada de significativo nas aspirações alheias. Os objetivos de Ted são prosaicos, os de Peggy, ainda que mais elaborados, são vítimas fáceis para o cinismo dele. Ele nasceu pobre e agora vive numa cobertura, e ainda sim é afetado por uma síndrome de impostor, que o deixa sensível ao comentário de Mathis ou aos de Sally. Um ele demite, a outra ele tenta educar para que seja alguém mais do que a aparência.

Explorar a noção de que Don tem sucesso apenas por causa da beleza reverte os papéis entre os homens e mulheres da série, já que são elas que ao longo de sete temporadas sempre foram as que surgiram como “vítimas” da sua aparência. Joan, já habituada ao problema que é uma novidade para Draper, é vista nesse episódio não como alguém que merece um tratamento condescendente por ser uma mulher, mas como uma pessoa presa ao trabalho e ao filho.

Sendo essa dupla o centro de The Forecast, eles personificam diferentes incertezas em relação ao futuro. Os múltiplos desejos de Joan acabam se tornando um problema a medida que ela consegue o quer. Mesmo que equilibre o trabalho com a vida de mãe solteira, no momento em que encontra um potencial namorado, o filho se torna um empecilho. Nada na vida dela vem fácil.

Para Don, seus problemas são fruto do seu vazio. Ele conquistou o que queria, perdeu e reconquistou. Diferente de Joan que, mesmo que através de um caminho tortuoso, parece estar sempre numa ascensão, Draper sempre esteve numa montanha-russa e agora, que tudo parece bem, ele é apenas um homem que olha para revistas que anunciam um futuro maravilhoso e é incapaz de enxergar o mesmo. Não é inimaginável que ele consiga se relacionar com os sonhos de Peggy, ele mesmo demonstrou desejos similares quando convenceu Cooper e Sterling a criar a SCDP. Se ele surge inseguro e faz pouco dos sonhos de outros, isso é apenas uma forma de lidar com o vazio que ele sente.

7x11: Time & Life

Time & Life se divide em contar como SC&P chega ao fim e os conflitos internos de Peggy. A primeira mostra a incapacidade dos sócios da agência em aceitar uma mudança, em perder o controle. Durante uma década eles tentaram se manter donos dos seus próprios futuros, mas sem os problemas trazidos por essa independência.

A situação em que os cinco se encontram é sintetizada em uma cena que envolve Peggy. Quando ela conversa com o recrutador, a mensagem é clara: ela pode trabalhar em outros lugares e ser mais importante dentro da empresa, ou ser parte de algo muito maior e com mais influência, mas sem tanta importância. 

Ao mesmo tempo que a resistência deles é admirável, ela também é um tanto infantil. Don não quer trabalhar para a McCann por que os vê apenas como uma máquina sem criatividade e também por já ter recusado eles no passado. Pete não quer sair da sua posição de conforto; ele lamenta a mudança por jamais ter trabalhado em outro lugar. Sterling teme não ser mais importante, não ter mais o poder de ser o presidente da agência. Ted não se importa com a união, deixando Joan como a única que tem um motivo substancial. Se os outros perdem independência, ela corre o risco de virar praticamente uma secretária novamente, depois de anos para chegar a sócia.

Tal como Pete e o diretor daquela escola onde ele tenta matricular a filha, os sócios da SC&P parecem incapazes de esquecer o passado com a McCann, as tentativas de contratação, de compra, a promessa de independência. É irônico que Draper, que no episódio anterior debochava da ideia de “construir algo duradouro” na publicidade, seja o personagem que mais queira manter aquilo que ele construiu, em vez de simplesmente ser pragmático e adotar um caminho mais fácil diante de um mundo que jamais para de mudar a sua volta.

Em paralelo a absorção da SC&P, há Peggy e sua inaptidão com crianças. Assim que ela surge tendo que selecionar uma para um comercial temi que ela fosse mais uma vez ser caracterizada como a megera, algo recorrente em episódios recentes e que torna uma personagem que é muito mais que isso em uma figura rasa. Durante Time & Life essa impressão permanece, mas dessa vez a caracterização é feita com propósito.

Quando ela enxerga a mulher com quem ela acabará de discutir como mais do que uma figura unidimensional, que serve apenas para o papel de mãe, ela acaba questionando a visão simplista que as pessoas têm dela mesma, Peggy. No momento em que Stan começa num discurso paternalista, ela muda de lado e passa a defender a mulher, e a série mostra o seu feminismo de uma forma menos discreta que o habitual. Melhor, ela o faz sem parecer que a trama foi interrompida para que um personagem pudesse fazer um discurso resumindo a moral da história para o publico, a fala dela é natural dentro da trama.

Don pode negligenciar os filhos, Pete tem o privilegio de sequer saber que teve um filho com Peggy, Stan pode fazer piadas com o assunto, mas Peggy é constantemente julgada como a mulher que é amarga por não ter um homem ou por falta de filhos. Ainda que as várias vezes em que isso foi repetido ao longo dessa temporada e da passada pareçam demais, elas se tornam mais relevantes pelo discurso feito por ela nesse episódio.

Apesar dos problemas enfrentados pelos personagens, a sensação final de Time & Life consegue ser positiva. Seja Sterling e Don aceitando seus destinos naquela conversa no bar ou Peggy dizendo para Stan que tudo vai ficar bem, eles parecem ter aceitado que seus futuros e que isso não precisa ser o fim do mundo.

PS: A secretária de Don tem sido uma das personagens mais divertidas da série. Numa história que raramente aposta em alívios cômicos, ela tem feito esse papel nas conversas que ela tem com o chefe, hora agindo como mãe, hora como esposa.

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