Mad Men 7x08: Severance
11.4.15
Em Time Zones, o episódio que iniciou a primeira metade da última temporada de Mad Men, vemos em sua primeira cena Freddie descrevendo o comercial de um relógio, um discurso adequado ao tema favorito da série, a passagem do tempo. Agora, no seu retorno para sua metade final, Severance inicia com Don falando para uma modelo agir como se gostasse do que ela vê no espelho a olhar para seu reflexo num casaco de pele.
Essa ideia da satisfação com sua própria imagem, com sua própria vida, é o centro desse episódio e o que conecta as duas cenas mencionadas. No começo da temporada, quando vemos Freddie, na verdade assistimos a Don, que se encontra tão derrotado, não podendo sequer aparecer no trabalho para defender suas criações. Com a passagem do tempo e a recuperação, vemos um cenário diferente em Severance, com ele confiante, dirigindo as ações da modelo na presença de colegas de trabalho com a mesma intimidade e charme que ele poderia usar para conquistar a mulher na frente dele.
Os personagens que vemos nesse retorno parecem livres de preocupações. Don agora vai a festas e tem uma relação amigável com sua secretária, Ken esta decidido a se dedicar a escrita, Ted parece distante da depressão e o escritório funciona sem dramas. Essa aparente perfeição, entretanto, vai aos poucos sendo quebrada a medida que o episódio avança.
Se no começo há um espelho para onde uma mulher olha satisfeita, mais tarde quando o objeto reaparece em destaque, ele apenas reflete as velhas inseguranças de Joan, que sempre teme não ser levada a sério por causa da sua aparência. A cena dela no elevador, com Peggy, é excelente, com Joan rapidamente rebatendo a ideia de que ela tem alguma culpa pela maneira que os homens a tratam, como se o dever de parecer menos voluptuosa coubesse a ela, e que se os homens a sua volta a tratam de maneira desrespeitosa, é apenas por que ela faz por merecer.
Levar essa merecida resposta no elevador não foi o único problema de Peggy. O constante dilema no qual ela se encontra, entre ter um relacionamento ou uma carreira ressurge. Flores que não lhe pertencem, namorados que a abandonam por causa da dedicação dela ao trabalho, filhos que desaparecem: a repetição desse conflito entre profissão e vida pessoal cansa por vezes, tirando o brilho de uma personagem que é muito mais interessante que isso. Apesar disso, a metáfora para sua prisão ao trabalho construída através da localização do seu passaporte é boa.
Para Don, o problema que se esconde debaixo da aparente vida tranquila é a mortalidade. O falecimento de Rachel leva ele a pensar o que a vida dele poderia ter sido, olhar para o passado, para uma vida que ele não teve, sua fraqueza quando Pete descobriu a verdade sobre ele, que pensou em fugir com ela. É difícil saber como isso afeta o futuro dele, mas é claro que a tristeza profunda que ele sentiu é fruto de um Don Draper melhor, que evolui durante a primeira metade da temporada.
É sempre complicado prever o futuro de Mad Men, mas se esse episódio mostrou algo, é que a satisfação daqueles personagens ao se verem no espelho não vai durar muito.
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