American Horror Story: Freak Show 4×01 (Season Premiere): Monsters Among Us

11.10.14


Senhoras e senhores... It's the freakiest show!

As cortinas se abriram e o espetáculo começou, após meses de ansiedade. Depois de Coven, as expectativas baixaram um pouco, mas há aqueles que acreditavam no potencial que o tema Freak Show representa. Eu era uma dessas pessoas. Carregar um tema como esse exige responsabilidade e eu sabia que Titia Ryan Murphy não iria nos decepcionar nessa. Ainda pode ser cedo demais para dizer, mas sabemos que Titia sabe tocar no ponto certo quando o assunto é sério (como podemos notar em The Normal Heart), então podemos esperar por uma temporada grandiosa.

Ryan Murphy se inspirou no filme de 1932 Freaks, do diretor Tod Browning. Deixo aqui minha sugestão para quem não assistiu ao filme: assistam! No filme, os anômalos são tratados como vítimas e aprendemos a ter pena deles. Já American Horror Story aborda uma perspectiva diferente, defendendo a ideia de que eles não são coitadinhos. Os freaks são sim vitimizados, mas eles não deixam pra lá. Aqui podemos ver que, assim como as pessoas ditas “perfeitas”, eles têm dois lados e então sentimos compaixão, mas também medo e até mesmo repúdio. Além disso, eles também estão fadados a nos dar aquelas cenas de desconforto e nojo que American Horror Story faz tão bem, como a orgia com a enfermeira, e mostram que o mal também está presente neles.

Somos propensos a temer o diferente e ambas as obras trabalham em cima disso. Nossos olhos dificilmente aceitam olhar para uma anomalia de forma impassível.  Alguns de nós, incomodados, chegam a confrontar. Freak Show ensina que essas pessoas não sairão impunes. Claro, vivendo no mundo em que vivem, ninguém pode culpar os freaks por agirem de maneira violenta. É por isso que é tão difícil julgar o matricídio cometido por Bette e falarei disso mais adiante. Não é vingança, eles exigem o direito de liberdade e de serem tratados como humanos.  Além disso, o que torna esse tema tão fascinante são as próprias aberrações, vítimas do acaso, da pequena probabilidade de uma alteração genética ou um acidente. Desviando do que é considerado padrão, esses casos se impuseram em nosso meio. É nosso dever aprender a lidar com eles, afinal, para todos nós havia uma pequena chance (maior ou menor, que seja) de ter o mesmo destino.

Deixemos o moralismo um pouco de lado. Você pode dizer que um episódio foi muito bom quando, mesmo com 1 hora de duração, ele passa super rápido e quando você vê já acabou. E nem foi preciso muito. Não foi um episódio cheio do terror e/ou com o nível de bizarrice com que estivemos acostumados nas temporadas anteriores. Foi um episódio introdutório. Veio para nos situar dentro do tema e obteve muito sucesso nesse ponto, eu diria. Não ficou claro onde exatamente a temporada pretende chegar, mas já temos uma ideia sobre sua natureza.

Jessica Lange é Elsa Mars, uma expatriada alemã que administra um dos últimos circos de horrores tão comuns naquela época. Numa primeira vista, a personagem de Jessica é a mesma das temporadas anteriores: uma mulher que sonha com o estrelato, tem certa influência sobre outros e usa o poder da vagina para conseguir tudo. O diferencial , aqui, é que agora rola uma questão de autorreconhecimento. Ou deveria rolar, o que pode ser trabalhado com o decorrer da temporada. O sentimento de Elsa para com suas aberrações não é uma simples empatia. Ela quer mostrar que freaks também podem ser estrelas porque ela também é uma. O que falta para ela ter mais chances de sucesso nesse desejo é justamente admitir. Não é novidade que Jessicão continua divina, e agora toda trabalhada no sotaque alemão impecável.

As mais novas aquisições de Elsa são Bette e Dot, as gêmeas siamesas, interpretadas de forma maravilhosa por Sarah Paulson. Admitidamente inspirada por Tatiana Maslany, Sarinha começou fazendo um belo trabalho com as gêmeas, que vai muito além de Ruth e Raquel. Não existe a boa e a má. Mesmo que Bette tenha um ar mais doce, em contraste com a amargurada Dot, ambas foram vítimas da mesma repreensão pela típica mãe que teme os olhares alheios e prefere enfiar as filhas num inferno por medo da humilhação e pelo sentimento utópico de proteção. Isso as afetou de maneiras diferentes, mas elas ainda compartilham desse mesmo sofrimento. Como Elsa aponta, Bette matou a mãe, mas Dot não fez nada para impedi-la; ambas são culpadas. Elas não compartilham apenas um corpo, mas também de sentimentos e pensamentos. Apesar disso, as duas possuem posicionamentos diferentes em relação ao Freak Show. Enquanto Bette está toda amarradona, alegando ter escapado da escuridão e se encontrar agora numa “liberdade gloriosa”, Dot vê sua alma em meio ao desespero. A execução das duas está bem bacana, o efeito da divisão no pescoço não está ruim como julgamos antes e a técnica de montagem paralela é um grande ponto, exibindo as perspectivas das duas, além do foco em uma delas em determinados momentos, reforçando a ideia de que são personagens diferentes, apesar de dividirem o mesmo corpo.

A birra entre as irmãs ainda promete aumentar graças a Jimmy Darling. Não é para menos, já que o personagem baseado em Grady Stiles, o Lobster Boy, um desses artistas bizarros, que possuía ectrodactilia, é interpretado pelo delicioso Evan Peters. Jimmy é aquele que toma partido por todos os outros e que vai se certificar de que todos sejam tratados bem. Esse instinto violento e até mesmo assassino o aproxima demais de Grady, que possui uma história incrível, era alcoólatra e abusivo com a família. Freak Show parece ter captado essa essência, o que promete fazer com que Evan volte a ter um ótimo personagem como Tate.

O que mais me deixou ansioso por essa temporada foi a revelação de que Pepper estaria de volta. Com essa temática, ela não poderia ser deixada de fora, ainda mais porque a nossa amada microcefálica foi inspirada em um dos personagens de Freaks. Sua presença meio que define Freak Show como um prequel de Asylum e essa ideia é maravilhosa. Poderemos ver a vida de Pepper antes de ir parar no manicômio, um destino compartilhado por muitos dos anômalos na época.

O terror da vez fica por conta do palhaço assassino. Palhaços já são assustadores por si só, o que me faz pensar como diabos podem usar uma caracterização dessas para entreter crianças. Não me admira que muitas delas sintam pavor de palhaços. O palhaço de Freak Show está num nível ainda mais elevado de assustador. Mas ele ainda é um palhaço, sendo movido pelo desejo de entreter. Apenas escolheu uma forma inusitada de fazer isso.

Ainda não ficou claro onde se encaixa a personagem de Frances Conroy e seu filho, além de sua riqueza e paixão por aberrações, mas tudo indica que servirão de alívio cômico.  Achei divertida a cena deles como únicos telespectadores do espetáculo, fazendo piadas sobre poderem escolher qualquer lugar, já que pagaram por todos e tentando comprar Bette e Dot. Quanto a Kathy Bates, ela veio trazer toda sua força e suas expressões firmes como a Mulher Barbada.

Minhas expectativas pela temporada continuam altas. Ainda acho difícil conseguir superar Asylum, porque Titia dificilmente conseguirá fazer algo tão lindamente fechadinho como aquilo, mas Freak Show tem tudo para ser brilhante. Os personagens até agora são todos cativantes e bem construídos. Quando eu disse que a presença de Pepper indica um prequel de Asylum, quero dizer que a história, de uma maneira geral, deve caminhar nesse sentido, indo parar onde Asylum começa. No âmbito daquela época, manicômios eram comumente os destinos finais das aberrações. Se bem trabalhada, Freak Show pode se comunicar perfeitamente com minha temporada preferida e aí vou pagar pau eternamente pra Titia e ele finalmente vai recuperar meu amor perdido com Coven e com a quinta temporada de Glee.

P.S.: Stars never pay. Usando essa pro resto da vida.

P.S: Já quero saber onde contrato os serviços de relaxamento de Evan Peters e onde compro uma menor mulher do mundo para mim também.

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2 comentários

  1. Muito bom, penso que a serie não será tão arrebatadora, mas imagino que não fará feio. O que você achou da abertura? Você imagina que esta temporada será mais entretenimento que terror?

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    1. Achei a abertura bem bizarra e só perde pra de Asylum. Acredito que essa temporada será mais voltada para o sombrio mesmo, o próprio Ryan já disse isso. É o mínimo que a seriedade do tema exige.

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