Person Of Interest 3x17/18: / / Allegiance
28.3.14
Por que a Máquina se importaria em
proteger um homem aparentemente sem importância quando poderia
sacrificá-lo para impedir que o Samaritano fosse construído?
Partindo dessa ideia, o episódio consegue desenvolver uma história
que da continuidade a trama principal da temporada ao mesmo tempo que
responde a pergunta inicial com outro questionamento muito mais
importante: por que Root precisa se importar com outras pessoas?
Num episódio que carrega seu nome era
de se esperar que a personagem fosse o ponto central da trama, e ela
e colocada nessa posição de uma maneira inteligente, que alcança
um equilíbrio entre mostrar mais sobre ela e o roubo do processador
que permitiria a construção do Samaritano.
Sendo as duas, a Máquina e Root, tão
próximas é quase impossível falar sobre uma sem pensar na outra.
Ao utilizar o invento de Finch para ensinar a Root que ela deve se
importar com pessoa, os roteiristas não só tornam a hacker uma
personagem mais complexa, capaz de demonstrar emoções até então
impossíveis de serem associadas a ela, como também mostram que a
Máquina é capaz de pensar além de um simples objetivo.
Quanto mais Person Of Interest
avança, mais distante ela se
torna de um procedural e
se aproxima da distopia e da ficção cientifica, sempre presentes
mas nunca com tanto destaque. Ao apresentar
essa
cadeia de eventos, onde Finch ensina uma máquina a entender a
complexidade e a confusão dos sentimentos humanos, e então essa no
futuro ensina,
a sua própria maneira, o mesmo a uma pessoa, a série consegue
mostrar ideias tão presentes no sci-fi através
de uma visão extremamente humana, se interessando em criar histórias
não apenas sobre conceitos interessantes, mas também sobre
personagens singulares e como eles reagem diante dos problemas
criados por esse avanço tecnológico.
Ainda
melhor, a equipe criativa da série navega por esses temas
escorregadios sem jamais alterar a essência de Root. Um dialogo
errado e esse episódio se tornaria piegas, com ela chegando ao fim
dele dizendo que ama todas as pessoas, que o mundo é colorido e
povoado por pôneis saltitantes, se arrependendo profundamente de
todos os crimes passados. No lugar disso, há
uma personagem melhor, que ainda é muito do que vimos até aqui
sobre ela, mas com mais nuances e emoções novas para serem
exploradas.
3x18:
Allegiance
Depois
de um episódio que uniu tão bem aspectos variados da trama,
Allegiance é
decepcionante. Não ruim,
mais um ponto baixo e de pequena importância numa história maior,
que vinha sendo contada num casamento hábil entre casos
que vivem em aparente isolamento mas acabam se mostrando relevantes
dentro da mitologia de Person Of Interest
e outros momentos que dependem completamente de
um conhecimento preexistente daqueles personagens e eventos passados
para serem entendidos.
Allegiance até
pode ser encaixado nessa descrição, mas a forma como ele se conecta
aos seus antecessores é artificial e revelada em plot
twist previsível.
Colocar Greer no fim do episódio, esclarecendo seu papel no caso da
semana, é pouco criativo
considerando o equipamento que havia sido roubado. No momento em que
descobrimos o destino dos
até então pouco importantes geradores
não é necessária uma capacidade de dedução muito
boa para perceber qual o
destino deles. Decima já havia adquirido o software e o hardware,
faltava a fonte de energia. O real receptor do extravio
poderia ser mantido em segredo até um episódio futuro, e quando
descobríssemos seria interessante lembrar dessa dica plantada
semanas antes.
Igualmente
esperado é o outro plot twist de
Allegiance. Caindo
mais uma vez em seu pior e mais nocivo vício narrativo, que
provavelmente nunca produziu sequer um momento de fato inesperado, a
reviravolta criada ao colocar o diplomata grego na posição do vilão
pode ser antecipada no momento que ele se dispõe a ajudar Maria.
Seja pelo histórico da série em sempre tentar fazer o espectador
crer que o assassino ou traidor é alguém para então, nos
derradeiros minutos, revelar quem era o real inimigo ou pelas
evidências que o próprio diplomata fornece – ele diz que depende
de empresas como aquela que emprega Maria para fazer seu trabalho,
tendo assim uma motivação muito maior e mais óbvia que o francês
para participar daquela conspiração -, é simples prever seu
envolvimento.
A
ideia de criar uma trama de conspiração internacional envolvendo
diplomatas e multinacionais funciona para essa série. Ao
abordar esses temas há a oportunidade de falar sobre assuntos
bastante reais através da ficção, e isso é feito sem jamais soar
uma propaganda política. Dessa forma, ideias sobre a percepção
pública sobre imigração – um iraquiano é terrorista, todos são,
como Lapointe chega próximo de defender em certo ponto – ou as
piadas com Lionel que o colocam na posição do americano ignorante
que não entende não conhece nada sobre o mundo além dos EUA. Isso
é feito em meio a boas cenas de ação com os assassinos da Legião
Estrangeira, que impedem que
o discurso se torne óbvio ou desinteressante.
Allegiance poderia
ter sido um episódio isolado bom, mas as conexões mal-acabadas com
a trama principal da temporada e as revelações previsíveis o
tornam um exemplar quase irrelevante.
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