Almost Human 1x01/02: Pilot/Skin

24.11.13


Uma boa ficção científica que tenha o interesse em estabelecer um universo deve ser capaz de expandir seus conceitos além daquilo que é relevante para a trama da série. Seria muito fácil para os criadores de Almost Human se concentrarem apenas nos androides, centrais ao conceito daquele universo, e esquecer que com esse nível de avanço tecnológico outras mudanças seriam inevitáveis. Ao invés disso, J. H. Wyman (Fringe) estabelece uma realidade futurista cheia de detalhes que tornam aquele mundo crível com personagens verossímeis.

O piloto tem habitual ritmo acelerado, condensando um arco narrativo que leva da aversão de Kennex (Karl Urban) aos sintéticos até o inicio de uma aproximação com Dorian (Michael Ealy) - o ator interpreta Dorian bem, com uma aparência de constante curiosidade, como uma criança cheia de conhecimento mas que só agora vê o mundo pela primeira vez e parece maravilhada com o que descobre - em apenas quarenta minutos. Esse é o único grande defeito desses dois episódios iniciais, já que a relação de confiança entre os dois, que poderia ser mais explorada em futuros episódios, surge de um jeito um tanto artificial e apressado para que a série possa seguir adiante com uma dinâmica entre os dois protagonistas tão diferentes.

Outros aspectos do primeiro episódio são muito melhores. As motivações de Kennex são bem estabelecidas, explicando numa cena de ação bem executada – algo raro na TV, onde os realizadores preferem sempre cortes rápidos e ritmos frenéticos que parecem tentar esconder a ação – a origem da sua aversão aos sintéticos, e nos momentos seguintes como isso o afeta.

O design da produção consegue conceber uma cidade futurista que se mantém reconhecível, mesclando prédios e veículos antigos com arranha-céus modernos e motos flutuantes. Em certos momentos os inevitáveis lugares comuns do sci-fi aparecem na forma de hologramas e telas com formatos estranhos – qual o problema que a ficção científica tem com telas retangulares? - mas em sua maior parte as ideias são criativas, como as máscaras de luz ou a bomba de DNA vistos em Skin.

Além disso, os temas que Almost Human pretende lidar vão além dos gadgets do futuro, mas como certas tecnologias mudam a sociedade. A óbvia e esperada, mas jamais desinteressante, busca de Dorian pela sua identidade e respostas para suas dúvidas existenciais, o estranhamento causado pela presença dele na delegacia, o interesse curioso das crianças pelo androide, o estado de vigilância constante da população, e até uma discreta cena onde um casal entra na loja para comprar um sexbot, todos são mostrados com maior ou menor grau de destaque para criar um mundo que, ao invés de mostrar como é evolúido através de armas laser, mostra sua mudança pelo comportamento de seus habitantes.

Alias, as tecnologias que ganham mais destaque nesses primeiros episódios raramente estão ligadas a computação ou dispositivos utra modernos. Excetuando-se a principal nova invenção do futuro proposta pela série, os androides, as outras criações daquele futuro são produtos da biotecnologia. Bombas de DNA, gases que enlouquecem o sistema imune e a transferência da pele são todas possibilidades que vem da pesquisa biológica e que em 2048 surgem misturadas com avanços de outras áreas, apresentando uma ciência que mescla várias disciplinas tornando-a extremamente semelhante com o nosso presente, e assim mais realista.


Foi uma excelente estreia, com uma visão de futuro que, mesmo não sendo muito divergente de tudo que já existe na ficção científica, é bem executada, dando um desenvolvimento interessante a boas ideias.

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