Girls 2X09: On All Fours

12.3.13


Agonizante e Visceral do começo ao fim.

Pois é o fim chegou, e não precisávamos nem fazer as contas. Sabemos sempre que Girls está chegando ao seu fim de temporada quando começa a adentrar pelos seus caminhos sombrios sem volta, quando cava aquele poço enorme e se atira lá no fundo. Sabemos também que está acabando quando Marnie atinge o pior e o mais desesperado de si, quando Hannah surta e se isola do mundo à sua volta, quando Shoshanna está em períodos de transição, quando Adam cospe na cara do espectador o seu lado mais sombrio, e Ray o seu lado mais ranzinza. E claro, quando Jessa desaparece/reaparece no final com um grande cliffhanger.

Essa segunda temporada de Girls definitivamente me conquistou, e não foi só pelo auto nível de profundidade que a série conseguiu chegar com os seus personagens, mas também porque provou ser uma série feita de padrões. Sem dúvidas são as séries que estabelecem seus padrões e conexões entre as suas temporadas e histórias, que cativam mais os seus fãs. E é como se Lena Dunham desse um voto de confiança e de respeito aos seus espectadores, pois mesmo sem ser um triller ou uma série de ficção, Girls exige sim de quem à assiste uma dose extra de perspicácia e atenção para montar as peças do quebra cabeça, e quando você finalmente consegue e percebe que sua inteligência não foi subestimada, é extremamente catártico, e devo dizer que a muito tempo nenhuma dramédia fazia eu me sentir desse jeito. 


Focando no episódio vamos começar por Marnie, que quando perde o controle de sua vida parece não conseguir mais enxergar o fundo do seu umbigo, e adentra cada vez mais no mesmo, até perder completamente a noção sobre o mundo à sua volta. Confesso que estou achando muito divertido todo esse gelo que Charlie está dando na ex, tratando friamente, esquecendo encontros. Apesar de toda essa história cabulosa da empresa dele que surgiu da noite para o dia, pelo menos o plot serviu para render essa divertida dinâmica entre o casal e colocar Marnie em lugares cada vez mais degradantes. A cena da cantoria provou mais uma vez que por trás de toda aquela fachada elegante existe uma Marnie descontrolada e bem imatura, que não pode se encontrar em uma situação ruim, que já quer todos os holofotes à sua volta. Uma perfeita drama queen, e Hannah já havia cantado essa pedra lá no fim da outra temporada, e nós inocentes crucificamos a protagonista sem saber do "background" de Marnie.

Já Shoshanna encontra-se cada vez mais inconformada e desconfortável com o seu relacionamento. Nem à escapadinha com o porteiro e toda culpa do universo conseguiram colocar Ray de volta às graças da menina. Foi muito engraçado ver Shoshanna sair para cortejar os partidões da festa assim bem na cara dura com Ray assistindo tudo. Se por um lado Ray é um loser e tudo aquilo que dizem sobre ele, por outro não podemos esquecer que ele veio de encontro à ela em um momento em que ela estava muito "necessitada", e fez surgir na mesma uma auto-confiança que ela nem de longe possuía. O que vemos agora é ele se tornando apenas uma fase na vida de Shosh, um step que a menina precisava para adentrar na sua vida adulta amorosa, e que agora todos os seus defeitos se sobrepõem as sua habilidades, e para tal efeito, se tornou obsoleto. Se é feio ou não da parte de Shoshanna não cabe à mim julgar, só acho muito bonito à série nos apresentar assim, a verdade nua e crua, avida como ela é.


Outro grande foco do episódio foi Adam, que ao que tudo indicava, estava realmente disposto à "put his shit together" e ter uma vida bonitinha e burocrática. Um romance de ir ao cinema, tomar café junto e fazer sexo com data programada. Adam estava disposto a até ser o namorado perfeito para se apresentar para os amigos... Mas eis que um breve encontro casual com Hannah clicou algum ponto em sua psiquê, que despertou o seu verdadeiro alter-ego que estava reprimido durante todos esses encontros com Natalia. E o primeiro passo foi entregar-se ao álcool para dar partida no seu motor de atrocidades. E se a sua nova companheira queria realmente saber quem ele era, essa foi uma grande oportunidade de ver o animal cumprindo sua rotina em seu habitat. Desde andar e ser comida de quatro até receber jato de porra no peito, a menina foi submetida. Coisas que já eram muito de praxe na relação do rapaz com Hannah, mas que se colocadas de choque com o mundo "normal" e pudica, se tornam cenas quase que tenebrosas como à que vimos nesse episódio.

E por último Hannah continua galgando níveis mais alarmantes de sua doença. Agora começo a dar crédito à toda essa preocupação que seus pais tem com ela. É um ciclo vicioso, porque parece que a rejeição e a falta de evolução no seu trabalho só pioram a situação da sua doença, em contra partida a protagonista tem medo de expor todas as suas entranhas e tornar o produto visceral demais para ser consumido. E nesse empasse Hannah continua, enquanto suas neuroses só tendem à se agravar. Quão bizarra não foi a cena do cotonete? É explicita e mostra de forma muito honesta à que níveis um portador de TOC pode chegar com suas manias. É uma doença mental sim, e altamente destrutiva. Apesar de ter achado que a história caiu do céu, assim como vários plots nesse fim de temporada, estou a achando muito bem guiada e retratada. No mais é isso, não consigo nem acreditar que semana que vem chega ao fim minha dose semanal de bizarrices e peculiaridades. Girls fez uma grande temporada e chega ao fim com uns twists que podem dar uma nova cara à próxima temporada. Fico aqui com as expectativas mais altas do mundo para esse "season finale".  

Essa semana fiquei muito na dúvida na hora de escolher a música, por que acho "Valentine" uma das músicas mais lindas do novo álbum da Fiona Apple (que já colocamos outra aqui essa temporada), mas também tivemos a versão de Daniel Johnston para "Life In Vain", e Deus sabe como amo esse cantor. Então não pude deixar nenhuma das duas de fora...

   

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