The Newsroom 1x06: Bullies

7.8.12



O tiro que saiu pela culatra.

Como esta é a minha primeira review de Newsroom, antes de falar do episódio 6 em si, vou falar um pouco sobre as minhas impressões da série, que alia duas grandes forças do mundo televisivo, Aaron Sorkin e HBO. O casamento que parecia perfeito e muito promissor acabou sendo escorraçado pela crítica (mas conquistou o público, diferente da amada Studio 60) e, infelizmente, não de forma injusta. Apesar de ser super envolvente com diálogos mega rápidos e personagens carismáticos, a série vem sim escorregando em alguns momentos. O que mais incomodou até agora foi a infantilização dos personagens, que muitas vezes parecem ter saído de Glee, além das falhas tentativas de humor barato que ao invés de risada provocam apenas vergonha alheia. Sem falar da forma como a série coloca o ponto de vista de Aaron Sorkin como verdade, de certa forma até maniqueísta (o bom jornalismo que procura a verdade versus o jornalismo que só quer audiência), deixando pouco espaço aberto para debate ou reflexão.  Outro ponto que começou mal, mas já está melhorando, é a afetação exagerada de Mackenzie, interpretada por Emily Mortimer. Acredito que a atriz tenha capacidade para dar a volta por cima e nos convencer que aquela maluca realmente é uma profissional renomada dentro do jornalismo.

Para não falar apenas dos defeitos, é preciso ressaltar a competente interpretação de Jeff Daniels como Will McAvoy, o protagonista e mais complexo personagem da série. Logo na primeira cena da premiere, ficou claro que o cara nos traria grandes momentos. Outro ponto positivo da série é o seu ritmo frenético, que faz a longa duração dos episódios passar voando e me deixa muito empolgado por mais. Além da primeira cena da série, outro momento que me marcou muito foi a belíssima cena que tratou da cobertura de um assalto que acabou baleando uma congressista americana, tudo ao som da já batida porém emocionante Fix You do Coldplay.

Até o episódio anterior, o roteiro de Newsroom sugeria que existe apenas um jeito correto de se fazer jornalismo, o jeito do News Night, porém “Bullies” veio para nos mostrar que nem sempre as coisas saem como o esperado e a “verdade incontestável” nem sempre é verdadeira. As duas cenas que explicitam o “tiro que saiu pela culatra”, as entrevista com o japonês e com o republicano negro e gay, foram excelentes, atingindo grandes níveis de tensão e jogando um balde de água fria na equipe do jornal. O modo agressivo e persistente de Will, que já atuou como promotor e julga tudo o que é dito pelo entrevistado, acabou perdendo a medida certa, expondo de forma humilhante o entrevistado. Já a entrevista que tratava da contaminação radioativa na Usina de Fukushima foi um verdadeiro desastre. A pressão sobre a novata Sloan, que nunca havia estado ao vivo falando de algum assunto que não econômico, acabou fazendo com que ela fosse além do seu papel de entrevistadora, comprometendo a sua fonte e conduzindo uma grande parte da entrevista em japonês.

Todo o constrangimento rendeu um esporro daqueles por parte de Charlie (Sam Waterston), que até então vinha fazendo sendo paz e amor até demais da conta. Assim como ocorreu na semana passada com Neal (Dev Patel, o menino de Quem Quer Ser um Milinário?), a personagem de Olivia Munn, Sloan, não conseguiu de fato se mostrar e cativar o público. O pouco destaque dado a ela nos outros episódios aliado à sua falta de carisma fez com que eu ficasse tenso com a situação, mas sem me importar com o destino da personagem. Para que caia nas graças do público, o roteiro precisa inserir Sloan de vez no universo da série, uma vez que ela, assim como Neal, está meio deslocada por não fazer parte de um triângulo amoroso ou ter uma relação com alguém do trabalho. Para finalizar, Sloan até que teve um desfecho interessante em que teve que escolher entre consertar as consequências dos seus erros ou não parecer ainda mais loser perante o público assumindo um erro que não cometeu.

Se o plot de Sloan não ajudou muito na construção da personagem, com Will o efeito foi o contrário, que personagem foda. A análise, que acabou sendo o fio condutor do roteiro, pode até ser algo batido e já muito explorado (como não lembrar de Sopranos ou até mesmo outra séries de Aaron Sorkin?), mas foi essencial para que entendêssemos um pouco mais sobre Will, que enfrentou problemas de violência familiar e traição, traumas ainda não superados e que ditam a sua maneira de se comportar. Como pode alguém ser tão maquiavélico e manipulador ao ponto de comprar uma aliança para fazer Mackenzie se sentir ainda mais culpada em relação ao passado dos dois? Por uma lado pode parecer uma twist barata, mas eu gostei de ver que, assim como em suas entrevistas, Will McAvoy gosta de manter o controle da situação. Todos os sentimentos tratados na terapia e fomentados pelo jogo com Mackenzie e pela a ameaça de morte via internet, acabaram tornando o personagem no “valentão” do título do episódio (porcamente traduzido por mim), capaz de buscar com tanto afinco o que busca sem perceber ou ligar para a destruição que está causando à sua volta.

Na minha opinião “Bullie” foi o melhor episódio da série, já que conseguiu dar grande profundidade a Will e ainda questionar os seus métodos de trabalho. É muito bom ver Newsroom evoluindo, para quem sabe em algum momento atender às altas expectativas dos críticos e dos fãs. Fica bem claro que a série tem problemas, mas as suas qualidades conseguem superar todos os momentos ruins tornando Newsroom uma ótima experiência. Um dos argumentos que não aceito contra a série é o de que ela idealiza uma redação de jornal que nunca existiria, o argumento até que é verdade, mas alguém realmente vê nisso um problema? Como se as séries médicas, policiais ou de tribunais retratassem seus temas de forma realista? O importante, pelo menos para mim, é que os personagens sejam interessantes e carismáticos e que as histórias sejam boas. Afinal de contas, é para isso que serve uma série.

P.S.: Neste episódio, o humor funcionou um pouco mais do que nos anteriores, principalmente nas cenas do segurança, porém ainda não me parece algo natural à série e sim um momento em que o roteirista fala deliberadamente: “Ri aí, meu filho”.

P.S.2: Tenho que confessar que sou apaixonado pela abertura da série por conta de dois motivos, a música, que é foda, e o espírito troll do Sorkin, capaz de fazer uma abertura tão longa.

P.S.3: Apesar do meu lado PNC, Debi & Lóide é um dos meus filmes favoritos, um verdadeiro clássico, e por isso Jeff Daniels é ídolo.

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2 comentários

  1. A abertura é um lixo, tirando isso, concordo com todo o resto dito por vc.
    Tbm tenho gostado de The Newsroom e esse foi mesmo o melhor episódio, e realmente, o humor é bem forçado, longe de ser natural, poderiam ficar logo com o drama de uma vez.

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  2. To amando a série! Com certeza, acho que o que está mais incomodando é o humor forçado e deslocado dentro dos episódios..
    As coberturas jornalísticas são demais e incrivelmente empolgantes! E realmente, os episódios passam muito rápido!
    Pena que é série de temporada curtinha.. =/
    Gostei muito da review! =)

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