The Hollow Crown 1x02/03: Henrique IV

19.8.12


Um é rei, mas o outro é quem reina!

Bolingbroke é Henrique IV. Já idoso, agora interpretado por Jeremy Irons, ele sofre e luta contra as conspirações no reino, mas sua principal preocupação é o herdeiro que parece pouco propenso ao trono, vivendo em tabernas, confraternizando com ladrões e trapaceiros, sempre bêbado e às gargalhadas.

Nesta sequencia a trama adquire um clima muito mais divertido e debochado que dá um dinamismo maior e faz com que as horas passem rapidinho! E olhe que eu achei melhor ver e comentar estes dois episódios juntos, por se tratar de um único reinado, assim, encarei uma maratona de mais de quatro horas e quando acabou eu só podia pensar que precisava ver a continuação!

A parte técnica continua muito boa, adequada à proposta das peças, sem grandes planos de batalha, mas com o destaque necessário para todos os pontos importantes. A ostentação e luxo perdem um pouco de espaço para recintos sujos e de gosto duvidoso, nos quais o príncipe circula a maior parte do tempo.

Bolingbroke (BB) se tornou rei e segue inexpressivo como sempre. A culpa não é de Irons, mas do personagem a que dá vida, pois embora tenha dois episódios inteiramente dedicados ao seu reinado ainda não consegue se destacar o suficiente para parecer o personagem principal.

Henrique IV vê em Percy a imagem do jovem conquistador que um dia fora e lamenta que ele não seja seu filho, isso sem deixar de ver o perigo que daí pode advir. Para impedir que ele se torne uma ameaça, está sempre desmerecendo seus feitos e o rebaixando, ao ponto de instigar uma fúria e sede de vingança que transformam Percy num traidor voraz. Logo, este consegue angariar aliados e começa a tramar contra o rei. No entanto, ao contrário de Ricardo, BB está sempre reprimindo as ameaças antes que elas assumam proporções incontornáveis e consegue se manter no poder.

Verdade seja dita, Percy é um rapaz arrogante, sem papas na língua, capaz de irritar até mesmo seus aliados, mas demonstra um fervor tão grande nas coisas que faz, que consegue mexer com o telespectador muito mais do que BB. Me pergunto se ele aceitaria a oferta de paz que seu tio Worcester não apresentou e quais seriam as possíveis conseqüências, especialmente depois daquela cena em que o clero é massacrado após acreditar ter obtido um acordo.

Entre os trechos mais interessantes de BB, temos o chamado ao dever para o filho, com direito a tapa na face do bonito, que parece funcionar adequadamente. Gostei também de ver quando ele comenta que seu reinado chegou a um estado tal qual profetizado por Ricardo, levando o povo à guerra sangrenta entre irmãos. Por fim, o momento totalmente Smeagol de BB e sua amada coroa, enfurecido com Quinto por lhe tirar a preciosa.

Henrique V é um personagem muito mais rico e sobressai ainda mais com a interpretação de Tom Hiddleston (#TODOSAMA!). Este jovem dado aos prazeres mundanos esconde dentro de si as preocupações pelo destino que o espera e alimenta a fé que um dia irá se redimir de todo desgosto causado surgindo como um grande e inesperado monarca.

Quinto inicia basicamente como um fanfarrão, parece mesmo aquele tipo de adolescente mimado que se diverte bebendo, se aventura em roubo, está sempre contando piada e debochando de seu pai. Confesso que dei boas risadas junto com ele, especialmente naquela cena boba em que ficam chamando o serviçal e rindo feito loucos quando o coitado confuso repete a mesma frase sem parar.

No final do episódio 02 já conseguimos perceber o desgaste de sua relação com os malandros, quando o velho, na maior cara de pau, reclama para si o feito de matar Percy. A distância só vai se acentuando no episódio seguinte. Na sauna (shirtless, yeah, I like!), ele demonstra abertamente o cansaço por manter uma máscara que o impede de sentir tristeza pela enfermidade de seu pai e se dá conta de que não possui amigos realmente, uma vez que não pode ser ele mesmo, nem contar com aqueles que o cercam para praticamente nada.

Falstaff surge como a grande figura que desencaminha o príncipe. Podemos sentir o afeto que existe na relação e afirmar que parecem se ver como o pai e filho que gostariam de ter, desfrutando dessa intimidade a cada instante. Por vezes duvidamos das intenções do velho, até concluir que existia mais interesses do que estávamos dispostos a acreditar e nos desapontamos junto com Quinto. Vale à pena refletir sobre o monólogo de Falstaff durante a batalha, quando questiona a honra de morrer por uma coisa em que não acredita.

Não é surpresa quando Henrique V assume a coroa e junto com ela todo decoro necessário, reconhecendo os esforços do juíz e condenando os trapaceiros a pagar por seus crimes. O gordo estava tão eufórico por acreditar que as leis não se aplicariam a ele que comete a estupidez de interromper uma cerimônia oficial querendo reconhecimento. Ainda que Quinto estivesse disposto a ser benevolente, não o faria numa cerimônia pública, sob pena de perder qualquer autoridade e controle da ordem legal. Pena que a realidade nem sempre caminha com essa lógica, ou não veríamos tanta impunidade ao nosso redor...



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