Protogênese: Game of Thrones, True Blood e por que a HBO é a melhor emissora de todos os tempos

17.6.12



"A qualidade nunca se obtém por acaso; ela é sempre o resultado do esforço inteligente."
-John Ruskin

Já presenciei muitas injustiças na vida, mas a maior provavelmente aconteceu esse ano, enquanto acompanhava a troça feita com a temporada de "Game of Thrones" (GoT). Semana a semana, li e ouvi comentários que iam além da minha compreensão, sempre se desfazendo de uma das histórias mais coesas e bem feitas da tevê com argumentos sem sentido do tipo “a adaptação não está sendo bem feita” ou “não sei o nome dos personagens”. Oras, desde quando uma narrativa tem que se sustentar pela mídia em que está se desenvolvendo? Cabe a você, espectador preguiçoso, preencher as lacunas por conta própria, seja lendo todos os livros para melhor acompanhar o show ou adicionando os detalhes que faltam com a sua imaginação.


É gratificante ver que, em tempos de shows que apelam para o caminho mais fácil --  como "The Big Bang Theory", "How I Met Your Mother" e outras comédias de situação pedestres que fazem questão de entregar tudo de bandeja ao espectador, colocando setas e mais setas para indicar o caminho que a trama segue --, temos trabalhos magníficos como o trilhado por GoT nessa temporada. Por exemplo: tome-se o caso da Sacerdotisa Vermelha. O que importa se seu é Melisandre, Joana, Teodora ou Valéria? Sua contribuição para o que está sendo contado vai tão além de um nome que o fato de terem optado por não revelá-lo só a envolve ainda mais em uma atmosfera de mistério.

O mesmo vale para personagens como Daenerys e Jon Snow, para quem chovem reclamações sobre “estarem andando há meses para nada”, quando ambos tem um propósito muito bem definido: se unir em matrimônio ao final de suas jornadas. Isso ainda não foi explicitado nos livros, mas digo desde já que é o que vai acontecer -- os menos incautos já perceberam a dica dada pelo autor no título da sua saga: "As Crônicas de Gelo e Fogo" --, depois que ambos estiverem maduros o suficiente para assumir seu lugar no trono como é de direito. Ela, a mãe dos dragões, ele, o bastardo de Eddard, o herói da série, mas o único de seus herdeiros com arcabouço para tarefa tão grandiosa. O caminho que percorrem é o caminho um para o outro, o que faz desta a história de amor mais bonita já escrita – ou no caso, não escrita ainda.

E não para por aí! Temos uma miríade de shows do canal que não apenas investem, mas se calcam na ousadia. O que dizer de "True Blood", que resolveu abordar as histórias de vampiros sob um viés diferente, evidenciando o pastiche que o universo das criaturas fantásticas se transformou em tempos de "Crepúsculo", "Supernatural", "Once Upon A Time" e congêneres?

Na estreia da quinta temporada, mais focada do que nunca, vimos o universo de Sookie Bill, Andy Bellefleur e cia. abordado sob uma ótica ainda mais surreal do que as temporadas anteriores. Vimos em Sookie, até então a mocinha incorruptível, os primeiros lampejos de psicopatia, ao assumir ter tudo premeditado para matar Debbie e mentir com relativa facilidade para Alcide. São momentos assim, que permitem às personagens transpor todas as barreiras de certo e errado que fazem a obra de Alan Ball valer a pena.

A solução pontual para a morte de Tara é prova disso. A personagem brilhantemente interpretada por Rutina Wesley é indubitavelmente uma das mais substanciais na trama e, depois de ser exorcizada de seus demônios, hipnotizada por uma mulher-bode, estuprada serialmente por um vampiro sádico, lesbianizada em prol de novas camadas no roteiro e convenientemente encaixada na trama das bruxas, se transformar em vampira não só é o caminho mais óbvio e interessante para a personagem, como o menos absurdo até então. Não que os absurdos não sejam um deleite planejado por Alan Ball, que sabe o que faz, mas tenho fé que nessa nova fase Tara finalmente será reconhecida pelos fãs como a personagem complexa e fantástica que é.

Eu poderia ter escolhido outros exemplos dentre os inúmeros shows de sucesso do canal, mas optei por esses dois que, não coincidentemente, são os carros chefe da sua programação e ilustram, indubitavelmente, o quão superiores são suas produções perante os demais canais de tevê. Entretanto, um pensamento me ocorreu agora e talvez comparar a emissora com outras redes estadunidenses seja covardia, afinal de conta, não estamos falando de tevê e sim da HBO.

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25 comentários

  1. Cara, excelente texto, arrisco a dizer que foi um dos mais inteligentes que eu li esse ano.
    Concordo com o que foi escrito, principalmente sobre a personagem Tara, a atriz consegue ser uma veracidade em cena, assim com grande parte do elenco de GoT. Me pergunto o pq desses telespectadores preguiçosos insistem em acompanhar series mais complexas, se a unica coisa que sabem fazer e reclamar, e não tentam e embarcar juntamente com os roteirista. As vezes ambas as series sofrem com o excesso de personagens, principalmente durante a quarta temporada, o roteiro parecia bobo e cheio de remendos. Diferente de GoT, mesmo no excesso personagens, todos tem o seu grau de importância, mesmo que seja apenas por uma citação do nome, ou da historia, todos aquelas historias, vão convergir em apenas um lugar.

    "Mas tenho fé que nessa nova fase Tara finalmente será reconhecida pelos fãs como a personagem complexa e fantástica que é."

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  2. Estava gostando do seu texto, mas no momento que começou a dizer coisas (mesmo que suposições) sobre o Jon e a Daenerys, sem avisar que eram spoilers, eu não fiquei muito feliz (vamos dizer assim), então parei de ler.
    Eu já li o primeiro e segundo livro, e estava decidindo se leria os outros agora ou se assistiria primeiro e depois leria o livro (referente a temporada). Mas você já acabou com as minhas dúvidas, vou ler os livros, e logo.
    Vou deixar salvo esse texto, quando eu terminar de ler os livros eu retorno e termino a leitura de seu texto.

    Vida longa e prospera,
    Bruno

    Sermão: Informe quando houver SPOILERS.

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  3. Daenerys e Jon - se esse romance acontecer , não foi o Martin quem escreveu.

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  4. Estou chorando de rir, como vcs são CRETINOS!
    E tem gente levando a sério hauhauhahuaha
    Mudem o nome do blog pra SAMBADORES ANÔNIMOS!
    bjos

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  5. Bruno, como eu disse em seguida no texto, não há qualquer indicação sobre Jon e Daenerys nos livros, essa é a minha opinião de como a trama vai ser seguida, assim com ode alguns leitores menos incautos. Pode ler sem receio que não há qualquer informação além do que foi exibido no show e especulações não oficiais.

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  6. Não entendi, por que não mereço ser levado a sério?

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  7. Não entendi, por que não posso ser levado a sério?

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  8. Eu nunca me senti tão intelectual e tão ignorante ao mesmo tempo lendo um texto! hahahahahahh adorando essa nova sessão =)
    PS: Adicionar o Protógenes nos SaCasts, especialmente os mais recheados com produtos da CW e ABC-Family e Glee! Aí sim que vai ser sambada na cara

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  9. Eu tava ouvindo os podcasts antigos e todo mundo fala do Jovem Nerd, eu só entre no site algumas vezes há um tempãaao atras e nunca ouvi um podcast deles... Mas enfim, Leando, você não está entendendo as série, porque concordo muito com o Prô e concordo que Game of Thrones é uma bela e épica história de amor, entre uma Tia e o Sobrinho.

    Segundo teorias o Jon Snow não é bastardo o Ned, mas sim filho da irmã do Ned com o Irmão mais velho da Dany que morreu na batalha antes de começar a história, então fique de olho Protò... Porque é isso que falam por ai, e na verdade isso faria do Jos Snow a "Canção de Gelo e Fogo", jpa que ele é filho do norte, mas possui sangue de dragão em suas veias...

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  10. O texto já estava bom demais, mas depois que eu li os comentários ficou melhor ainda.

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  11. Eu tb não entendo as críticas em relação à GoT. Mas acho que, na maioria das vezes, são palavras vãs, com o objetivo de aparecer, já que todo mundo gosta de falar mal de alguma coisa. E tem muito trouxa que faz coro, só pra posar de inteligente.

    Em um dos fóruns que eu frequento, o pessoal reclamou da sombra projetada pela Melisandre, achando que seria algo sobrenatural e que não caberia no seriado. Caramba! Um seriado que começa com os White Walkers voltando dos mortos não chamou a atenção desse pessoal de que se tratava de uma história fantástica?

    Se vc ler o livro, perceberá que a série está perfeita e não é possível fazer algo melhor do que isso. Tá querendo mais substância? Leia o livro.

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  12. Não entendeu, senta aqui no meu colo q eu te explico!
    :)

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  13. Quero Protógenes no Twitter me dando pílulas diárias de sabedoria seriemaníaca!

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  14. Pô, até concordaria com a teoria aí de Jon/Dany, mas a gente tme que levar em conta que a Dany é puta dada de Essos, né? Depois que Drogo morreu, não tem macho que segure àquilo ali.

    E o Jon já é compromissado com o namorado dele, o Cetim. Duvido que Jon vá trocar o boca-de-veludo, digo, boca-de-cetim pela racha da Dany. Só se for pra ser igual a Ygritte, fazendo beijos gregos nele nas horas vagas.

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  15. Fico imensamente feliz que alguém concorde comigo, Guilherme, confesso que às vezes penso estar falando para as paredes aqui, já que muitos me proclamam chato pelo que escrevo e os que gostam dão a entender que não estão levando o texto a sério e que de alguma forma estou soando jocoso.

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  16. Cara, não teve spoiler...ele só pitaqueou o que 50% dos leitores acham ou querem q aconteça....pode ler os livros sem medo porque:


    AGORA SIM È SPOILER
    *
    *
    *
    Até o quinto livro os dois personagens sequer sabem da existencia do outro!!!hauhauhau

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  17. Espera aí que eu preciso atirar nos intelectualmente inferiores que não entenderam a complexidade do seu crocantíssimo texto.

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  18. KKKKKKKKKKKKKK

    "Cabe a você, espectador preguiçoso, preencher as lacunas por conta própria, seja lendo todos os livros para melhor acompanhar o show ou adicionando os detalhes que faltam com a sua imaginação."

    Comolidar??? Já tá liberado reescrever GoT como bem entender então???

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  19. Concordo! Pelos livros fica bem óbvio que Jon é Targaryen, filho do Raegar com a Lyanna Stark. Todas as dicas estão lá, é só prestar atenção...

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  20. Palmas lentas para você, Protógenes!

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  21. Gente essas dicas dos livros a partir do primeiro já tem? Estou terminando o primeiro e sinceramente não saquei nada disso.
    Claro que depois que li o spoiler faz todo o sentido, e alias espero que seja isso mesmo, porque já sinto que minha simpatia por Dany começa a aumentar kkkk

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  22. 5. livro = 9a temporada...

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  23. Oi, Protógenes.
    Terminei de ler o texto...
    Que a força esteja com você... para ler o meu texto
    Eu também tenho essa teoria (de que a Daenerys e Jon Snow ficarão juntos no final), mas você disse com tanta convicção que aparentou ser mais do que uma teoria sua. Alias, POSSÌVEL SPOILERS PARA QUEM NÂO LEU ATÉ O LIVRO 2, porque foi até ele que eu li [[SPOILERS][Eu suspeito que o Jon não é filho do Stark, e sim da Stark][SPOILERS]]
    Quanto ao assunto central (acredito eu) do texto, eu concordo em partes com você. Primeiro, as pessoas esquecem que adaptações são isso, adaptações. Não vejo problema em mudanças na história, desde que mantenham a essência da mesma. Quando as pessoas dizem que a adaptação não esta sendo bem feita, é preciso saber em qual sentido elas estão dizendo e o que elas esperavam da série, para assim podermos compreender e aceitar, ou não, essa crítica.
    Segundo, a pessoa não sabe ou não lembra o nome do personagem? Caso ela não lembre, cabe a ela relembrar. Caso ela não saiba, porque a série não contou, cabe a ela avaliar a importância de saber o nome daquele personagem para o bom entendimento da trama naquele momento, para, assim, concluir se é uma falha ou, simplesmente, uma opção da série em não utilizar naquele momento (ou em momento algum). Lembre-se, o nome do personagem, às vezes, pode revelar algo sobre ele (como família, cidade) que a obra quer esconder do leitor/espectador.
    Terceiro, quanto ao preenchimento das lacunas, depende quais as lacunas que estão faltando. São lacunas essenciais para o bom entendimento da história central? Se sim, então temos um problema. Se não, “Cabe a você, espectador preguiçoso, preencher as lacunas por conta própria”, ou não. Os livros devem ser utilizados como um suplemento (algo que expande a história da série) ou como um apêndice da série, portanto não devem ser encarados como um complemento, mas, sim, como um extra/anexo (da série) para os mais interessados e dispostos a se emaranhar nesse mundo fantástico (ou até o contrário, para aqueles que estão lendo primeiramente os livros, a série é um apêndice dos livros). Devemos nos lembrar que não são todas as pessoas que gostam de ler livros ou assistir seriados, por isso os produtores, diretores, roteiristas e o autor não devem levar em consideração a existência do livro para entender a série (ou vice-versa). Vale lembrar, também, que se a série adotar licença criativa tornar-se-á um problema, pois ficará confuso acompanhar as duas mídias com o pensamento de ver em uma o que viu na outra ou como complemento (alias, isso já aconteceu várias vezes no seriado, cenas que não existiam nos livros, existirem no seriado, mas, até agora, essas cenas levaram para o mesmo “encerramento”), pois poderão haver pontos divergentes entre as duas, e quanto mais extensa for essa licença, maiores serão as divergências da série e do livro.
    Enfim, a minha ordem de consumo foi: Primeira Temporada, depois Primeiro Livro; Segundo Livro, depois Segunda Temporada. Do meu ponto de vista a segunda ordem é melhor, porque a sensação de acréscimo de conhecimento ao ler depois de assistir é maior do que o contrário, eu tenho a sensação de aumentar a imersão quando utilizado essa ordem, e quando primeiro leio e depois assisto, parece que estou vendo um resumo se grandes acréscimos (com exceção da parte visual, que apesar da minha mente ter orçamento ilimitado, ainda assim eu gosto de ver “materializado” (mesmo que numa tela). Mas irei ler o restante dos livros ainda este ano para evitar receber spoilers (mesmo que de teorias).


    “In my opinion”,
    Bruno

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