Hipsters For Dummies: uma narrativa em evolução moldada pelo discurso público
17.12.11Quando ser PNC não é o suficiente – se você não sabe o que é PNC, clique aqui e leia a primeira parte desse arco narrativo textual.
Eles estão por toda a parte. Nas livrarias, procurando o último exemplar de "Quando Nietzche Chorou", edição rara de colecionador com comentários de jornalistas conceituados que acabaram de retornar de uma temporada de pesquisas políticas no Sudão. Nas lojas de CDs, escutando Adele como se não houvesse amanhã. Nos cafés, bebericando seu cappuccino macrobiótico enquanto discutem alimentação biomolecular, os últimos avanços científicos na acupuntura moderna e quantos saxofones são necessários para se fazer um bom jazz.
O que é essa bagaça aí, é a mesma coisa que hippie?
Sim e não. Hipster, segundo a professora de marketing Zeynep Arsel, "é uma mitologia em vez de ser um grupo objetivo de pessoas, uma representação cultural, um estereótipo, uma narrativa em evolução moldada pelo discurso público". Segundo este que vos fala, é um bando que se preocupa mais em combinar gorrinhos e cachecóis listrados com os óculos de armações esdrúxulas e a capinha de couro de seus iPads do que com a pilha de louça pra lavar que se forma em suas pias. A busca fundamental do hispter é ser diferente, mesmo que para isso tenham que parecer todos iguais. Não que haja nada de errado com isso é claro que há.
Uma definição que corrobora perfeitamente a tese vem do blogueiro Rafael Ramos e caracteriza o hipster como "nada mais do que o Hippie Moderno. Ele gosta de coisas que ninguém gosta, ele sente raiva quando ouve alguém falar que gosta da mesma banda que ele, come comidas que ninguém come, se veste como ninguém se veste, ou seja, ele quer ser diferente da grande massa da sociedade, mas falha miseravelmente."
Achei essas definições um pouco ofensivas, tio, comofas/
Não precisa se desesperar, caro hipster em potencial! Muita gente pode se beneficiar desse curioso fenômeno da hipsteria. Que o diga Zooey Deschanel, já citada no PNC For Dummies e ícone absoluto da cultura hipster. Revolucionária de carteirinha, ela é atriz sem saber atuar e cantora sem saber cantar, mas usa chapeuzinhos e terninhos quadriculados, é linda e encanta os onanistas um público diverso e variado com seu olhar de peixe morto blasé. Ser hipster não parece tão ruim agora, né?
De jeito nenhum. Que tipo de coisa preciso consumir além de cappuccino macrobiótico pra entrar pro clube?
Bom, a primeira coisa é garantir que o guarda-roupas está preparado para sustentar esse novo estilo de vida. Se precisar de óculos (ou não, tem muito hipster por aí que usa só porque é trend) escolha uma armação preta e grossa o bastante para exercer sob seu rosto um peso duas vezes maior que o de seu corpo inteiro. Xadrez, listras, sobretudos, chapeuzinhos, camisas de lenhador, gorros e cachecóis são essenciais. As peças devem combinar o maior número de cores, mas a composição final deve parecer o mais sóbria possível, passando aquela impressão de P&B – por mais contraditório que isso possa soar. E se certifique de isso tudo venha de brechós, porque hipster que é hipster não consome nada novo e de grandes lojas inseridas no esquema capitalista da cultura mainstream. Um visual sujinho também nunca matou ninguém, então fica a dica para barbas agressivamente proeminentes e aquele up na cabeleira, de preferência cortando as madeixas você mesmo – porque frequentar salão não é coisa de hipster que se preze.
Se vestiu direitinho? Bom, então é hora de caminhar, pegar o metrô ou dar aquela pedalada (carro jamais, a não ser que seja ecológico) até o Starbucks mais próximo e fazer desse o seu santuário, mesmo que você odeie café. As dicas do que faz a cultura hipster, assim como as da cultura PNC, são extensas e por isso vamos mostrar nesse guia apenas a ponta do iceberg.
No cinema: Esqueça qualquer outra referência e se jogue em Stilyagi, – ou Стиляги (!) – um clássico do cinema russo (!) lançado nos Estados Unidos sob o apropriadíssimo título Hipsters. Em forma de musical (!), o filme conta a linda história de Mels, um comunista (!) que conhece a bela Polly, se apaixona e vive altas confusões com a garota e seus amigos da pesada num local chamado "Broadway" (!). O próximo passo para Mels é comprar um saxofone (!) no mercado negro (!) e deixar o cabelo crescer. O número de exclamações na sinopse é o quão hipster você deve esperar que o filme seja, numa escala de 1 a 7 – porque 1 a 10 nos foi imposto por esses malditos padrões capitalistas.
Na música: MGMT (aquela de "Time To Pretend", a música que você ouviu em todas as séries de TV há três anos atrás), Belle & Sebastian, Björk, Vampire Weekend, Tori Amos, Klaxons, Cut Copy e é claro, She & Him, bandinha insuportável deliciosa que conta com a absoluta Zooey Deschanel. Bandas de garagem também são importantes. Quanto menos acessível ao grande público, melhor – mesmo que, escondidos, todos os hipsters escutem Lady Gaga até os ouvidos sangrarem.
Tá tudo muito bom, mas esse é um blog de séries ou o quê? Quero ver essa cultura linda na telinha!
É pra já, caro dummy!
Atualmente temos na televisão duas representantes da cultura hipster em espectros opostos. A primeira é New Girl, estrelada por nossa amiga Zooey Deschanel (quem mais?), que interpreta Jess, uma garota retardada super alegre e cheia de vida que revoluciona a vida de três solteirões e um bebê ao se mudar para o apartamento deles. Com cantorias que vão acabar com seus tímpanos maravilhosas e piadas que você ouvia na quarta série inteligentemente elaboradas, Jess mostra ao trio o que é ser um hipster em sua totalidade, brindando-os (e ao paciente público que os assiste toda semana) com uma das piores mais excêntricas coisas já feitas na TV.
No lado negro da força e com uma pegada anti-hipster, temos 2 Broke Girls, uma das comédias de maior audiência da nova temporada americana. Ambientada numa lanchonete muito bem frequentada no coração do Brooklyn, a série é um prato cheio para trollagens gratuitas e deliciosas críticas muito bem embasadas a respeito da cultura hipster. Max (Kat Dennings), a protagonista rabugente mais fofa da história, não se cansa de espezinhar os pobres hipsters com a verdade nua e crua ofensas absurdas, além de fazer uma denúncia grave ao visual andrógino de alguns deles, como os icônicos Guy-Girl e Girl-Guy, um casal (?) de hipsters típicos que só querem curtir a vida em festinhas na lavanderia.
Menções honrosas da cultura hipster na nova temporada da TV merecem ser feitas para Homeland, que mistura longos silêncios com um plot de terrorismo e a infalível pegada do jazz; Bozzzzz, a trama sociopolítica estrelada por Kelsey Grammer, o Frasier; sem esquecer, é claro, de Jane By Design, nova aposta da ABC Family que vai deixar os fashionistas literalmente de cabelo em pé.
Sou hipster, e agora?
Relaxa e goza, porque não há mais nada a ser feito. Max Black vai te zoar até o fim dos dias, mas Jess (who's that girl?) será sua amiga para sempre. Encerro esse guia com duas belíssimas citações, que dão um alento para os hipsters desse mundão afora.
Max Black, garçonete e artista: "Hipsters wear skinny jeans, homeless wear dirty jeans. Hipsters listen to Radiohead, homeless listen to the voices in their head. Hipsters have beards and blogs, homeless have beards and so much sadness." ("Hipsters vestem jeans apertados, mendigos vestem jeans sujos. Hipsters escutam Radiohead, mendigos escutam as vozes em suas cabeças. Hipsters têm barbas e blogs, mendigos têm barbas e muita tristeza.")
Zeynep Arsel, pesquisadora PNC: "Participantes de minha pesquisa desenvolveram interesses estéticos genuínos e profundos nas músicas, marcas, artistas e estilos indie e se sentem 'em casa' quando participam de tais empreendimentos culturais. Então, ter interesses mais esotéricos se torna uma salvação cultural para eles, bem como uma fonte de diferenciação simbólica desta corrente comercial."
Amém.
15 comentários
Muito bom, mas não me identifiquei com a descrição dos hipsters. Por enquanto, acho que sou apenas PNC.
ResponderExcluirComo você pode esquecer de citar a série mais hipster da história: BORED TO DEATH !
Ela representa muito mais os hipsters do que qualquer outra. Basta dizer que o protagonista
é um escritor blasé que mora no Brooklyn e é viciado em vinho branco e maconha. Algo pode
ser mais hipster?
Eu no máximo sou aspirante a PNC. Em se tratando de hipsters estou mais para Max do que para Jess. O máximo que me permito é escutar Adele e ver New Girl, mas eu nem gosto dessa última, então nem deve contar.
ResponderExcluirSó complementando esse informativo post, faltou mencionar o aplicativo para iPhone favorito dessa galera, tão absoluto quanto Zoooooey Deschanel e Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, o Instagram.
Eu definitivamente jamais serei Hipster, apesar de ser suuuper adepto da compra em brechó xD
ResponderExcluirindo contra todos (>>>>leozio<<<<) que achavam que eu era hipster, venho por meio deste declarar que NÃO SOU!!!
ResponderExcluiraff, acho que só as camisas xadrez, homeland (que é linda por sinal, ces num vem falar mal), e algms bandas indies que fazem parte do meu ~dia-a-dia~
fora isso. nada. 2 broke girls tem as melhores piadas de hipster. bem lembrado, leo.
Negação... I've been there...
ResponderExcluirhaha! com certeza! E agora tem Instagram pra android! já dá pra ser Hipster por um preço mais barato!
ResponderExcluirUma pergunta para vc Leozio:
ResponderExcluirAdele está em Glee assim como...
Kate Perry está em Glee.
Logo... Adele é a Kate Perry dos hipsters?
A Katy Perry dos hipsters é a Zooey Deschanel, porque né? Além de idênticas, o grau de idolatria é o mesmo.
ResponderExcluirPelo charme, malemolência e genialidade, Adele é a treinadora Beiste dos hipsters!
E Adele tem de rezar para Katy não roubar seu homi #Jolene
ResponderExcluirMorte lenta e dolorosa Léo... Ousadia dizer que She & Him é ruim! Ela pode ser a msm pessoa em tds os filmes/séries q faz mas ela canta lindamente!
ResponderExcluirStilyagi é fraco! Hipster de raiz gosta de Adeus Lenin, Coffee and Cigarettes, The Dreamers... Desprezam Rodriguez e Tarantino e declaram amor por Alan Moore e Lars Von Trier, Hipster q é Hipster só começou a ver Boardwalk Empire por causa do Michael Pitt e tem toda a videografia do Louis Garrel.
E por falar em série concordo com o Hadriel! Como esquecer de BORED TO DEATH e muitas outras coisas... HOW TO MAKE IT IN AMERICA, MISFITS, SKINS (mas só first generation, hipster que é hipster não gosta das coisas depois q vira mainstream).
Otra coisa! Aonde q Hipster ouve Adele?!!! Essa daí não tem scrobble no Last.FM desde 2009! Otra coisa q esqueceu... todo Hipster tem Last.FM e checa 2 vezes ao dia pra ver se tah cool! Hipster bom msm tirou 21 das lista de melhores álbuns de fim de ano e só deixou as coisas de chilwave, Washed Out, Toro Y Moi, Zola Jesus, James Blake... E a PJ Harvey claro!
E vc não falou tbm aonde os hipsters costumam frequentar! Hipsters são essencialmente seres da noite! Sol é só pra fazer foto bonita! Como a maioria dos Hipsters brasileiros não tem dinheiro pra ir pra Nova Iorque nem Londres, são fácilmente encontrados na Funhouse, Beco 203, Studio SP, Planeta Terra... Aqui pelo Rio nas Fosbox, Casa Matriz e Pista 3 da vida...
Achei uma definição mt rasa dessa categoria que possui não só uma ou duas mais várias camadas suculentas de experimentalismo! Generalizou mt! E todo Hipster odeia ser generalizado! FIKDIK!
Hahahahaha, rolei de rir XD Estou até pensando em virar hipster #not
ResponderExcluirBeijos e continuem com essa cultura linda!
Ai sis, vc e essa #Jolene. Acredita que ainda não tive coragem nem de baixar o Glee que você falou? Precisa ser guerreiro XD
ResponderExcluirBeijos!
O Bom de ler esse texto é que eu descobri que não sou Hipster, PNC eu sou, Mas Hipster não \°/ por isso eu me sinto uma pessoa feliz.
ResponderExcluirOpa, não sou hipster (mas PNC sim)! PS.: só eu achei o Guy-Girl, de 2 Brooke Girls, a cara do Arthur Darvill, o Rory de Doctor Who?
ResponderExcluirAgora ser hipster é não ser hipster, porque quase todo mundo é pseudo-hipster. Pois é, um paradoxo. #PNCjar
ResponderExcluirComenta, gente, é nosso sarálio!