The Kennedys: Complete Miniseries
13.4.11Entre tragédias, triunfos e polêmicas, The Kennedys consegue cumprir seu papel de humanizar algumas das mais conhecidas figuras da política norte-americana.
Quando, em 2009, o History Channel anunciou a produção de uma minissérie sobre a família Kennedy, eu sabia que problemas viriam em breve, não apenas com a série em si (que seria potencialmente criticada), mas com todos os aspectos envolvidos, desde os políticos até a vontade pessoal dos remanescentes do clã. Não deu outra. Logo começaram os rumores de que a produção seria paralisada e o History Channel, que sofreu pressões diversas (inclusive da imprensa especializada) decidiu não mais exibir os episódios por não considerá-los “acurados historicamente”, o que seria condição indispensável. No fim das contas, a minissérie em oito episódios, que já havia sido vendida para diversas emissoras ao redor do mundo, acabou sendo resgatada pela Reelz Channel, que encarou bancar a exibição nos Estados Unidos. É claro que provavelmente não foi um mau negócio, já que toda essa polêmica em torno da série acaba por promovê-la ainda mais, mesmo que o tema em questão já fosse suficiente.
Todo mundo conhece os Kennedy. A não ser que você viva numa bolha já ouviu falar, pelo menos em John, o 35º presidente americano, assassinado durante um desfile em carro aberto, em Dallas, quando se preparava para iniciar a campanha pela reeleição. Na minissérie, porém, vamos além disso e vemos de perto não apenas Jack (o apelido de John entre familiares), mas também, a figura de seu pai, irmãos e toda a família.
The Kennedys não é uma produção excelente, mas é uma boa minissérie. Possui seus defeitos, é claro, mas de forma geral, apresenta exatamente aquilo que promete e explora bem aspectos da vida pessoal dos Kennedy, transformando figuras públicas por meio do drama. É importante destacar que o objetivo da série não é o de ser um documentário e de ter foco totalmente no aspecto político que envolve o nome da família e que a tornou tão popular. A ideia é sim, apoiar-se em grandes fatos, mostrando-os do ponto de vista interno, dos bastidores, por assim dizer.
Justamente por não se tratar de um documento histórico é extremamente fácil assistir à minissérie. O drama da vida real é levado para a TV por atores de qualidade e que fazem jus à reprodução da época. Aliás, esse é outro ponto positivo. Roupas e cabelos se unem aos trejeitos incorporados às interpretações e quando menos se espera, você consegue enxergar Katie Holmes como Jackie Kennedy e Greg Kinnear como John. No entanto, é preciso dizer que se as atuações deles são boas, as de outros atores são excelentes. Tom Wilkinson, que vive o patriarca da família, Joseph é simplesmente fenomenal. É ele o responsável pelo tom de “O Poderoso Chefão” que os roteiristas queriam tanto colocar em pauta. Barry Pepper, que interpreta Robert Kennedy é outro ator que faz a diferença. Talvez até por conta do texto do personagem, ele rouba a cena diversas vezes, embora eu seja incapaz de tirar qualquer mérito do ator por conseguir criar para Bobby um carisma maior que o de John (pelo menos na TV).
Aliás, fica aqui mais um elogio. Essa foi a primeira vez em que vi Bobby ganhar destaque em uma produção do tema, mesmo que isso traga meu puxão de orelha em seguida. Entendo que seria impossível acompanhar a vida dos nove filhos de Joseph e Rose (Diana Hardcastle), mas eu esperava ver um pouco mais sobre os irmãos menos destacados no cenário político. Ficamos apenas com uma breve menção à Rosemary Kennedy, que tinha problemas mentais, passou boa parte da vida em instituições e foi submetida a uma lobotomia. Entre os rapazes, Joe Jr., o primogênito destinado a ser grande também aparece e é sua morte prematura que faz de John o próximo na lista de seu pai. Joseph, inclusive, é retratado como um homem determinado a fazer de seus filhos homens de destaque no cenário político, usando de todo tipo de artifício para esse fim. O John do seriado deixa a impressão de ser um homem dependente das atitudes do pai e do irmão Bobby para comandar o país, o que me soa como exagero e licença poética, apesar de Bobby sempre ter sido, de fato, o braço direito de John. Já o lado mulherengo de John... Aparece, sim, mas um tanto amenizado, talvez, já que ele é conhecido por seus casos extraconjugais, o mais escandaloso, com a atriz Marilyn Monroe.
Como não poderia deixar de ser, Marilyn faz sua aparição em The Kennedys, mas a série deixa devendo a reprodução da lendária cena em que ela canta “Happy Birthday, Mr.President”. Também senti falta, ainda nesse setor, da representação da morte de John. São fatos importantes, marcantes e imagens inesquecíveis que vimos em filmes e documentários diversos e que seriam fundamentais para a minissérie. No entanto, acredito que os produtores tenham escolhido esse caminho justamente para não mexer com o que já está gravado na memória do público. Uma pena, pois o desafio teria valido a pena.
Entre os grandes acontecimentos que dominaram o Governo Kennedy, acompanhamos o andamento da crise dos mísseis em Cuba, a invasão infeliz na Baía dos Porcos, a crise com a União Soviética, a visita de Nikita Khuschev, a defesa dos direitos dos negros e a luta (impetrada por Bobby) contra a máfia.
A história começa a ser contada a partir do dia em que John Kennedy é eleito presidente, encerrando a saga logo após o assassinato de Bobby, durante sua campanha rumo à presidência, quando Jackie já está casada com o magnata grego Aristóteles Onassis. Apesar disso, somos transportados para diversas épocas pelos flashbacks, que ajudam a construir a imagem geral da família, mostrando como fatos do passado influenciaram o futuro de cada personagem.
A direção ficou a cargo de Jon Cassar. A produção executiva é de Michael Prupas, Joel Surnow, Jonathan Koch, Steve Michaels e Jamie Paul Rock.
PS* Uma coisa bastante curiosa (ao menos para mim) que aparece na Parte II é uma cabine de votação americana, em toda a glória de sua complexidade imcompreensível. O "troço" (aquilo é tão imenso e complicado que merece a alcunha) provavelmente explica os motivos de ser tão difícil levar o americano às urnas.
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