Pressão é pressão, e a sensação que temos ao senti-la é igual para todos. O porquê a acumulamos e como a deixamos sair é o que realmente difere de pessoa para pessoa.

A realidade de viver não é fácil, a de trabalhar em um hospital é menos ainda. Tentar viver enquanto se trabalha em um hospital é muito pior, e se quem escolhe seu destino é ninguém menos que Shonda Rhimes, ai viver se torna quase impossível. Pressão é uma coisa que nunca faltou na vida daqueles que trabalham no Seattle Grace, mas já fazia algum tempo desde a última vez que a vimos afetar tanta gente ao mesmo tempo, e de tantas maneiras diferentes.

Quando a pressão é demais e você já não consegue aguentar, você pode fazer como a Dra Altman e esquecer dela. Alheia à responsabilidade de ter ‘’o futuro do Oriente Médio’’ em sua mesa de cirurgia, e em meio ao caos causado pela demissão de Cristina, Teddy pôde contar com a ajuda de Hunt e Derek para salvar mais uma vida. O clima era pesado e Shepard estava afiado contra a doutora, mas ainda assim nada saiu do controle. Aliás, clima foi o que rolou entre Altman e o segurança do paciente. Vocês também perceberam ou fui só eu? Acho que a troca de olhares e o aperto de mãos entre os dois acabaram saindo até barato.

Você também pode fazer como Bailey: seguir em frente. Eis um belo exemplo para Cristina. Mesmo atravessando o período mais difícil de sua carreira, e quem dirá de sua vida, Miranda consegue buscar forças para continuar. Outro paciente morreu, dessa vez não em suas mãos, mas ainda assim a responsabilidade assumida por ela acabou colocando-a novamente à beira de seu próprio abismo emocional. Apesar de tudo, eu acho que ela finalmente começou a entender que nem sempre depende apenas de nós, que às vezes há muito mais elementos envolvidos do que apenas o bisturi, e quando isso acontece nem o melhor cirurgião do mundo pode salvar o paciente. E como mente vazia é oficina do diabo, Chief Webber pode ter estendido a mão que faltava para puxar Miranda do fundo desse poço, pois quem sabe a pesquisa sugerida por ele não seja a redenção que ela tanto procura.

Cristina pode não seguir o exemplo de Bailey, mas tudo bem, já que seu exemplo é bem mais fácil de pôr em prática. Fugir da realidade, se desligar, tirar um tempo pra você mesmo em seu próprio mundo. Se esse era o plano de Cristina para se ver longe da pressão, devo dizer que ela o está executando brilhantemente. Cortar o cabelo de Callie, comprar metade dos móveis à venda no shopping e ainda por cima dar uma festa em casa é exatamente o tipo de coisa que Cristina Yang nunca faria. Uma fuga como essa pode libertá-la ou também aprisioná-la, mas eu simplesmente não me preocupo, pois só de ver Cristina sorrindo e nos fazendo sorrir depois de tanto tempo, eu já me satisfaço por hora. E sabe que eu entendo o Derek? Não podemos esquecer que ele sofreu, em circunstâncias diferentes, do mesmo dilema que hoje sofre Cristina. Shepard deixou claro que deve sua vida à Cristina, e é por isso que ele não força a barra, pois sua preocupação agora é na reabilitação da Cristina ser humano e não da Cristina cirurgiã. O trauma que ela sofreu transpõe a máscara e o avental, o trauma dela é na alma, é um trauma enquanto pessoa. Cortar e costurar é fácil, ter estrutura emocional para fazer isso é que é difícil. Até acho que tenha faltado iniciativa por parte de Meredith, mas é inegável que Derek era sim a pessoa certa para conversar com Cristina nesse momento. Pois enquanto a chama do coração de Cristina não acender a cirurgiã que sempre esteve e sempre estará dentro dela, mais conversas descontraídas no telhado do apartamento serão muito bem vindas. Eu continuo torcendo incondicionalmente por sua volta assim como todos, mas hoje entendo que apressá-la não vai ajudar.

Apenas Avery consegue usar um plano mais fácil do que o de Cristina, porém moralmente errado, que é culpar outra pessoa. Eu sou sincero, admito que minha relação com Avery anda meio conturbada. Tem semanas em que eu o detesto, tem semanas que eu o odeio e outras raras semanas em que eu consigo suportá-lo. O personagem é muito bom, eu não fico irritado com ele, são suas atitudes estúpidas e impensadas que me tiram do sério. Toda semana ele consegue estragar alguma coisa, tanto que essa semana ele já começou o episódio tendo que implorar por um atendente. A morte de mais uma paciente obviamente só aumentou o sentimento de fracasso em sua cabeça, mas ele acumula traumas assim como todos no hospital e nem todos tiveram a atitude que ele teve. Socar Karev pode ter sido a única válvula de escape que ele conseguiu encontrar naquele momento, mas foi a pior válvula que ele poderia ter escolhido, já que mesmo merecendo aquela surra, o direito de dá-la não cabia a ele. Aliás, eu odiaria vê-lo como par romântico de Little Grey. Lexie é boa demais para ele, além de arrancar gargalhadas com cenas como a guerra de bolinhas no refeitório, ela ainda consegue arranjar tempo para cuidar dos ferimentos de uma cara que acabou de espancar um colega sem motivo aparente. É por isso que eu digo, Sloan é o único canalha que tem minha aprovação para ficar ao lado dela. Enfim, Avery foi inconsequente e passou dos limites, mas como eu disse, meus problemas não são com o personagem em si e sim com suas atitudes. É por isso que torço para que Avery tome um choque de realidade que o faça acordar desse pesadelo que arrasta, tanto ele, quanto as pessoas a sua volta.

Durante todo o review eu falei sobre pessoas que usam várias maneiras distintas de lidar com a pressão, agora eu vou falar sobre alguém que lida com ela usando todas essas maneiras de uma só vez. Sabemos que Karev sempre foi e sempre será um homem em conflito com ele mesmo, e toda a estabilidade que ele vinha mantendo durante essa temporada começou a cair por terra quando o odiável novo chefe da pediatria resolveu roubar sua brilhante ideia. A paciente sobreviveu graças a uma bolinha de ping pong e o Chief acabou sabendo que a sugestão era originalmente de Alex, mas já não importava, era tarde demais. Aquele velho e repugnante Karev havia despertado para fazer o que sabe fazer de melhor, magoar. A cena em que Alex está prestes a tirar a virgindade de April é uma das cenas mais cruéis que eu já o vi protagonizar ao longo desses 7 anos, ele simplesmente deixou a garota em pedaços. A surra que ele tomou de Avery foi, apesar de errada, totalmente merecida. Eu estava prestes a prejulgá-lo quando o melhor diálogo do episódio veio e me fez reavaliar tudo isso. Alex e Meredith não são amigos tão próximos, e talvez por isso, ver Karev contar seu drama familiar tenha sido tão tocante. Isso não tira a culpa de seus atos e muito menos serve de justificativa, mas nos ajuda a compreender o porquê de tudo isso. Alex já não tem mais família, não tem mais esposa e são poucos os seus reais amigos, em outras palavras, Alex simplesmente não tem como desabafar. Ele viu a ignorância de seus atos, e exatamente por isso foi atrás de April para conversar, exatamente por isso apanhou de Avery sem revidar. Além de ter sua carga dramática consideravelmente aumentada ao longo das últimas temporadas, nós também sempre soubemos que o personagem tem seu lado bom e seu lado ruim, e esse é o principal motivo por eu não crucificá-lo precipitadamente. Esse tipo de atitude é hoje em dia um fato isolado, e eu tenho certeza que ele vai, de um jeito ou de outro, arranjar um modo de se retratar. Afinal, é como eu disse, eu não o isento de culpa, eu apenas o entendo.

Pressão foi a palavra que deu o tom do episódio, e consequentemente também o tom do meu review. Porém, curiosamente, pressão é a única coisa que parece não existir na vida de quem criou tudo isso. Shonda Rhimes segue alheia a essa palavra, firme, forte e em seu próprio ritmo. Fazendo mais um bom episódio, e aos poucos construindo uma ótima temporada.