Boardwalk Empire 1x01: Boardwalk Empire

20.9.10


Com selo de qualidade HBO e produção de Martin Scorsese, Boardwalk Empire mostra o lado negro do sonho americano.

Vou começar confessando uma coisa: demorei em decidir se tinha gostado de Boardwalk Empire. Explicarei meus motivos. Primeiro, tenho certo trauma de The Sopranos. Após tentar, sem sucesso, terminar a série que me matava de tédio, fiquei com péssima impressão de qualquer produção que envolvesse Terence Winter. Podem me jogar aos leões, mas não sou do time que acha The Sopranos essa genialidade toda.

Depois, de acordo com meu raciocínio, eu imaginava encontrar uma trama absolutamente lenta, o que, honestamente, não me agrada muito. Vejam bem, acho que trabalhar bem um roteiro é essencial e que dar valor aos diálogos é o que faz a qualidade de uma série, mas não a ponto de comprometer a ação, afinal, as coisas não podem ser apenas um apanhado de falas geniais que não vêm acompanhadas de acontecimentos palpáveis.

Lógico que eu sabia que a produção seria impecável. Só nesse primeiro episódio, dirigido pelo próprio Scorsese, foram gastos US$18 milhões. Além disso, a HBO é do tipo que prima pela reconstrução de época e o cuidado com figurino. O elenco também só tinha feras e a história dos gângsteres de Atlantic City, em plena aplicação da Lei Seca, era mais do que promissora. Ainda assim, fui sem maiores pretensões. Assisti com calma, livre de preconceitos e digeri tudo vagarosamente. São muitos elementos a considerar e quando tudo foi colocado junto só restava uma coisa a pensar: a série é excepcional. Eu até diria mais. Boardwalk Empire é cinema feito para a televisão.

A recriação dos idos de 1920 é fenomenal. Não só pelos cenários, construídos com base em cartões postais da época, mas também a música e toda a caracterização te transportam para o tempo em que Al Capone (Stephen Graham) e Lucky Luciano (Vincent Piazza) ainda nem se destacavam entre os maiores gângsteres dos EUA. Aliás, eles fazem parte da trama e interagem com Nucky Thompson (Steve Buscemi), o homem que comanda Atlantic City. O interessante é que Nucky não é, propriamente, um gangster. Ele é um político, um corrupto, que diante das circunstâncias precisa se adaptar e ir além do que jamais imaginou para manter o controle da situação.

Um dos pontos principais desse momento histórico está nas possibilidades, no tal sonho americano, de fazer sucesso e enriquecer e esse papel é muito bem representado por Jimmy Darmody (Michael Pitt), um jovem ambicioso e disposto a sujar as mãos de sangue para conseguir o que deseja. Apesar dessa descrição fria, Darmody é extremamente humano e quer apenas aproveitar as chances que tem e criar as que ainda não apareceram para cuidar melhor de sua família.

Entre os personagens de destaque, vale ainda citar Margareth (Kelly Mcdonald), uma dona de casa que sofre nas mãos do marido violento, alcoólatra e viciado em jogos e acaba chamando a atenção de Nucky. Lógico que o marido de Margareth acaba virando, literalmente, comida de peixe. Preciso dizer que aquele corpo sendo pescado me impressionou muito e gosto muito do caminho que essa história irá tomar.

Porém, o principal fica por conta da mistura de gângsteres italianos, irlandeses, poloneses e judeus, mostrando o surgimento e ascensão do crime organizado como o conhecemos. Nucky, que é a grande personalidade da série, tem amigos em todos esses nichos, sem contar as ligações com senadores e a polícia local. Outra coisa ótima é ver Nucky em meio à Liga Contra o Álcool, impressionando as senhoras conservadoras com discursos comoventes sobre sua infância na pobreza. Tudo uma grande mentira.

Vale lembrar, ainda, que a série é baseada num livro. “Boardwalk Empire: The Birth, High Time and Corruption in Atlantic City”, escrito por Nelson Johnson, um ex-funcionário de planejamento da cidade que embarcou numa profunda pesquisa histórica sobre o período em que houve grande crescimento local, justamente por causa da formação dessa máfia, comandada por Enoch (Nucky) Johnson, que é a base para o incrível personagem de Buscemi.



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2 comentários

  1. preciso ver essa série, quando vi o trailer foi como assistir Imperio do crime pela primeira vez.

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  2. Eu comprei o DVD da1a temporada de Sopranos e não gostei do piloto. Se bem que isso faz 2 anos, tinha 15 anos e era muito inocente ainda. O mais engraçado dessa história é que o meu pai, que mal gosta de séries, amou e acha genial. Cheguei a uma conclusão: é coisa de velho. Mas como isso faz tempo eu ainda quero dar + uma chance para a série pelos emmys e pelos comentários da Cláudia (legendado). Até porque estou numa fase em que tudo que eu assisto da HBO acho genial: Roma, In Treatment e True Blood (com controvérsias da 3a temp). Mas a promo e o nome de Martin Scorcese chamaram a minha atenção. Valeu pela review! Vou conferir.

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